sábado, novembro 11, 2006

primeira leitura

a carne se faz alma
o espírito toma corpo
somam-se asas em liberta revoada
.
missão cumprida
partida para novos vôos
.
que sempre o amor seja meta
que "os versos jamais se aquietem"
que a poesia se realize paz
em tua vida
em nossas vidas
amém
.
... //...
..
nosso livro
- corpo e alma em verso e prosa -
confirma:
a poesia liberta
a poesia agrega
a linguagem poética é construtora da paz
.
... //...
.
parabéns,
generosa Loba,
pela idéia, pela organização, pelo trabalho, e pelo resultado
ficou belíssimo!
.
a todos que dele participaram
sou grata
minha alegria por fazer parte desse grupo
não tem tamanho
.
- beijos-carinho-beijos-carinho-beijos-carinho-beijos -
.

quinta-feira, outubro 05, 2006

sexta-feira, setembro 29, 2006

segunda-feira, setembro 18, 2006

sem saída

havia no ambiente
uma certa obliqüidade
uma linha
sobre a qual tentava me equilibrar
.
o que desejava nem sei
um apoio para ficar
um impulso para partir
.
até que me senti no ar
cara-a-cara com a luz
.
vinda da sombra
tua mão
viril, sedutora
lançava-me
aprisionava-me
.
e nunca mais escapei
da obliqüidade do amor
.
......... //...
.
Publicado no dia dos namorados de 2006,
no
Corpus et Anima
em resposta a um desafio de nossa amiga
Loba.
..

sexta-feira, setembro 08, 2006

UM JEITO

Não me espantarei
Se te fores como chegaste
Assim mansamente
Sem precipitações ou alardes
.
Apenas sei, levarás
Entranhados no olhar
Os meus olhos mendicantes
E deixarás o mel dos teus olhos
Em meu olhar r
efletido
Como se fora um pedido
.
Dois olhares suplicantes
Em busca de porto e pousada
Desenhados no infinito
Desse amor que não se acaba
Somos busca e desencontro
Somos vadios amantes
Errantes peregrinos
Encantamento e paixão
.
E nosso jeito de amar
Sem ter muito a esperar
Transforma o anseio de ser
Em suave sopro
Em prazer
.

quarta-feira, agosto 23, 2006

AGORA CÍNICA

Ergue um pouco a saia.
Ajeita a blusa pro ombro ficar à mostra.
.
Na bolsa, o necessário:
Batom, delineador, o velho pente desdentado,
Um OB para a emergência,
O celular descarregado
Em chamadas não atendidas.
.
Na cabeça leve demência
Estanca qualquer pensamento.
.
No coração a ausência
De antiga e remota repulsa.
.
É só ventre.
Este sim, pulsa tomado pela urgência.
.
Respira fundo
Ensaia
Chacoalha as ancas
Sorri
.
De lirismo nem lembra mais
Aprendeu a ser arguta.
.
Doravante só busca o prazer.
Desce a rua resoluta
e
Se ao voltar trouxer revide
Terá sido absoluta.
.
... //...
.
Este texto marcou minha estréia na vida de blogueira.
Foi publicado no VERSO & PROSA ENCADEADOS no dia 11/12/2004
.
..
Não esqueço a emoção de ver um escrito meu publicado.
Serei sempre grata à
Loba, Janete Ruaro, Márcia Maia, Tarciso
pelo incentivo e pela acolhida generosa.
.
Aos quatro companheiros do Encadeados,
tão interessante experiência,
beijos, carinho.
.

quinta-feira, agosto 17, 2006

dona-de-casa

um fio correndo pela perna
o salto do sapato bambo
o longo cachecol desfeito
o batom carmim borrado
não escondiam o sorriso
cantante dentro do peito
efeito escambo escrachado
.
o olhar apreensivo
o passo apertado, lascivo
no corpo ainda um grito
.
estava atrasada
.
pro jantar uma cena forjada
hoje iam comer ovo frito
.

... //...
.
Amigos queridos, continuo sem net.
Assim que conseguir restaurar a conexão
ponho as visitas em dia e mato as saudades.
Beijos, carinho.
.

sexta-feira, junho 30, 2006

Um dia...

Minha doce passageira
Posso te levar por caminhos
trilhos de ferro dormentes
por asfaltos ondulantes
pelas trilhas poeirentas, mares
montanhas, silêncios
.
Serei até capaz
de inteira me abrir alada
carregar-te em volteios
- és tão leve -
sobre o mundo sem alardes
ou ainda conduzir-te
em vibrante revoada
meio a fogos e luzes
.
Minha doce, a ti suplico
podes a mim responder
- és perene passageira -
preciso apenas saber
aonde pretendes chegar
e logo de partida estaremos
.
Seja lá como for
chegaremos

.
(dedicado a JA)
.

sexta-feira, junho 23, 2006

O tempo e o verbo

O tempo brinca
O verbo apronta
O tempo brilha
O verbo canta
O tempo trilha
O verbo aponta
O tempo corre
O verbo indica
.
O tempo afasta
O verbo traz
O tempo lasca
O verbo faz
.
O tempo solta
O verbo leva
O tempo volta
O verbo ama
O tempo voa
O verbo atinge
O verbo acerta
.
O tempo aperta
O verbo chora
O tempo prende
O tempo prensa
O verbo ora
O verbo tenta
O tempo enfrenta
O tempo sente
O verbo mente
O tempo acata

O tempo corre
O tempo morre
O verbo mata
.

(dedicado ao Osmar)
.
... //...
.
Estou novamente sofrendo de internetite.
Uma inflamação que atinge cabos, rebimbocas, conexões.
O remédio? Jogar fora o micro junto com o expert espertinho que aparece desaparecendo.
.
Aos caros amigos... beijos, carinho.
.

sexta-feira, junho 16, 2006

ENTRE ASPAS

Hoje não são meus os versos que aqui gravo.
Ganhei-os da poeta e autora de livros infantis,

querida amiga dos bancos escolares,

.
Lucila C. Gaboardi
:
dar resposta a uma amiga
que das letras tira sentidos
que encantam e fascinam
tão transcendentes que são
dar resposta a uma amiga
que em meu coração se abriga
em lugar especial e escolhido
pelo sentimento maior

amor amigo
nasceu nos sonhos e devaneios
que juntas vivemos
na doce e irreverente juventude...
nasceu nos bancos da escola
que de tão amada
nos manteve a união

dar resposta a uma amiga
que tão lindamente
preenche o branco do espaço
de etéreas palavras
que resposta dar à amiga
se as minhas (palavras) se escondem
ante a beleza das dela


que resposta dar à amiga
que de mim diz ser preciosa
muito mais precioso sei
ser o amor
que me tem

.
Lucila, você me emocionou profundamente. Seu poema é lindo. E um arrepio me percorre a cada vez que o releeio. Penso nas forças que nos unem. Revivo a admiração que sempre tive e tenho por você. Tento entender a complexidade dos sentimentos. Preencho os grandes silêncios que nos envolvem. Enxergo a sintonia em que caminhamos. Sei que você está aí. Você sabe que estou aqui. E me encanto porque no fundo é tudo tão simples. É amizade. Sem intromissões, sem cobranças. É liberdade. É apenas e tão somente afeto. Precioso e verdadeiro afeto. E quem nele vive de nada mais precisa. Simplesmente, em agradecimento, vivê-lo.
.

terça-feira, junho 13, 2006

Testando o raciocínio num país sem lógica

I
se o ronaldo é gordo
se o presidente é sóbrio
a
imprensa mente?
.
II
se o presidente bebe
se a
imprensa
mente
o ronaldo é magro?
.
III
se a imprensa bebe
se o ronaldo é sóbrio
o presidente... é gordo?
.
alguém me ajuda!
.
(dedicado ao Stanislaw Ponte Preta)
.
... //...
.
Horas depois...
.
Viva o Kaká!
.
Que não é gordo... nem bebe.
Joga de verdade.
.
...

segunda-feira, junho 12, 2006

SOBRE O AMOR

Falar de amor dá arrepio
O assunto é desafio
É ter a alma por um fio
Sentir-se sempre no cio
.
É maquiar cara de cínica
Ouvir Simone e ser tímida
Olhar-se no espelho, mínima
.
Fingir que não está nem aí
Tendo aos saltos o coração
Responder "nem te ouvi"
Quando olhada com paixão
.
Mas se o doce olhar vai embora
Cansado de tanta espera
Madalena desespera
Chora, esperneia, tece a hora
Faz melodrama barato
Corre atrás de seu guerreiro
E se o amor for verdadeiro
Logo no primeiro ato
Tem-no para si, por inteiro
.
Lá vai ela segura
De novo desdenha o amado
Esquece toda a ternura
.
Sem procurar entender
Ele sai logo à procura
De quem não o faça magoado
Desse mal não quer sofrer
.
São jogos bem engraçados
Dos velhos tempos de Adão
Os dois andam separados
E se ao invés de apavorados
Assumem-se enamorados
Provocam do amor a explosão
.
Hoje a experiência festejo
Mais velha me regozijo
Quando m’ olham com desejo
Se for pra perder o ensejo
Perco bem antes o juízo.
.

... //...
.
Republicação... e continuo dedicando aos que, por amarem o amor, cultivam possibilidades.
.
Minhas referências: Mark Twain, Ivan Lins e Joyce.

.

quarta-feira, junho 07, 2006

lembranças de uma noite de maio

e muito havia de veludo
no hiato que tua voz ditou
desenhadas sobre o tecido
rosas te faziam alumbrado
as cores, a luz, o pacto

..
já não precisavas da fala
sorrias, apenas sorrias

.

(dedicadas ao amor)
.

segunda-feira, junho 05, 2006

na manhã de segunda-feira

colhi imagens antigas
que falassem de ti
muitas delas rebuscadas
indecifráveis
algumas até bonitas
outras assim, assim
.
letras soltas ao espaço
pegadas deixadas
com intencional acaso
fachos de luz se entranhando em mim
veludos me deitando em chamas
jeito alado a me buscar serena
.
tuas pernas
tuas mãos
teus olhos
tua boca
.
seriam partes
de um amor
retalhado
ou a incapacidade de dizê-lo
inteiro
.
hoje nada é para mim espelho
as metáforas não têm sentido
meu viver que é completo
exige o simples

o direto que perdure
o mais antigo e pleno verso
único fim de meu canto
o melódico
eu te amo
.

quinta-feira, junho 01, 2006

O PÁSSARO

Tu que preso à parede estás
Sabes que inoportuno és
Ao continuamente
Lembrar-me as horas?
.
Insensível carcereiro
De tua gaiola espalhas
Sobre mim os gradis de um presídio
Enquanto continuas atado
Às tuas próprias correntes
.
Oscilando anuncias
Que até mesmo o porvir
É tempo que chega perdido
.
No teu insano vaivém
Nem percebes o mote
Do Lullaby of Birdland
Girando na minha vitrola
Surdo por teu próprio grito
Por mais que eu alterne o canto
Com terceiras intenções
Cumpres o teu irritante moto
.
Sem sucesso arrisco
Arrancar-te de tua prisão
Arisco, não te abalas, não aceitas
O codinome beija-flor
Que tento a ti dedicar
.
Não vês, impassível ave
De nome cuco sem rima
No meu presente a oferta
Um rumo
A liberdade para o teu vôo
Alforria para meu cantar
.
(Dedicado a Foster e Shearing e a Cazuza, Reinaldo Arias e Ezequiel Neves)

.

sábado, maio 27, 2006

pensamentos em uma tarde de abril

a linguagem é curiosa
a cada palavra o infinito
dos significados ocultos
e das inúmeras contradições

a cada momento um sentido
possibilidades, direções

.
sintagmas de nomes, de fatos

.
para além do tempo vivido
- e este se finda -
o que fica é o paradoxo
do presente

tatuado pela chama
do gozo
sublimado
.
(ainda dedicado a AG)
.

quarta-feira, maio 24, 2006

inominável

semana de desmarcar
reorganizar
concentrar compromissos
fabricar e deixar que amanheça
um dia
.
frio, neblina
ou seria a fumaça do café
camadas da expectativa
a rotina dos jornais nos jornais
que logo cedo desbotam cena tão planejada
.
mais um dia
mais um ou quantos dias
estarão presos às paredes
o movimento dos véus e das cores
e a bailarina musa
.
tantas dívidas sem cobrança
tanta injustiça caiada
mortes sem dono ou cuidado
tanta trabalho a ser feito
cuidar de celures e baterias...
e o poder público
interrompe a energia
tentando mostrar serviço
ou o poder sem poder
.
em meio ao vai-e-vem da moeda
ironicamente
o órgão que deve clarear
apaga o poeta da luz
.
(... francamente, eletropaulo, vá estudar um meio para impedir que os presidiários recarreguem as baterias dos celulares e/ou vá estudar uma forma para ajudar o MASP a saldar a dívida. não nos prive de alegria, arte e poesia. estamos tão precisados...)
.

quinta-feira, maio 18, 2006

sem nome

recolheu as duas
aquela em que a todo entardecer se sentava
e a outra
a que amanhecia
.
passou a tranca na porta
vestiu-se de véus
tomou um gole do absinto
imaginou-se bailarina
.
a noite encontrou-a em rodopios frenéticos
d' Orsay era seu palco
e havia força naquela solidão
presa às paredes
.
(dedicado a ED)
.

terça-feira, maio 16, 2006

...

obombeirocorredavelhinhaquecor
redocachorroquecorredasireneque
corredocarteiroquecorredomajorqu
ecorredogariquecorredaestudantequ
ecorredosanguequ

.............................e
...............................s
................................c
.................................o
..................................r
...................................r
....................................e

...................................
........
................................... .....
......................................
..............................................

............................
.................................................sampaescorrehorror

_____________________________
...
Poema-comentário de um pernambucarioca apaixonado por São Paulo:
.
sampa em medo
.
vi sampa clara
com suas tortuosas
trilhas banhadas
de manhã no dezembro
.
um surdo mudo
despedaço de serra
libertário-libertino
que marca o eco
do meu pavor
de me chocar com um momento
qualquer do infinito
e deixar de ser
Nel Meirelles
_________________________________
.
Comentário-desabafo deixado por CRYS do blog Jardim de Letras:
.
Como estão se tornando cada vez mais tristes nossas cidades... Aspecto de guerra, portas e janelas gradeadas, pontiagudas grades, muros descomunais! Tudo tão soturno, sibilo de balas mortais. Nas praças, murmúrio...Olhar perdido, feições carregadas de medos...Crianças! Não conhecem o brincar de roda,Uma geração escravas da televisão, do videogame, do computador...Geração tristonha...Ah, como estão cada vez mais ermas e violentas as ruas das nossas cidades...É triste contemplar uma cidade de 12 milhões de habitantes praticamente vazia, de joelhos frente ao crime organizado. É muito triste!
____________________________________
.
Poema-comentário de CECI do blog Viver Melhor:
.
A Joana
.
A moça caiu de paixão pelo mocinho,
no morro choviam papelotes,
fuzis AR 15 brincavam com os dedos das crianças no plantão,
A moça, tão generosa, não quis ouvir o aviso,
fuzis não mandam flores!
Do outro morro, conhecia os "meninos" do outro lado,
E foi aí que uma voz conhecida,
na madrugada,
chamou a moça,
balas comeram seu corpo
tão jovem morena brasileira...
Pela janela do barraco,
a filha pulou,
escorregando com o irmãozinho,
ribanceira abaixo, safou-se ligeira,
buscando o colo da avó,
bem longe dali,
Para sempre Joana,
aprendiz do medo,
não se viu mais na escola de ontem,
o caderno para sempre,
manchado de sangue.
_____________________________________
.

quinta-feira, maio 11, 2006

a garoa
envolveu-nos
transportou-nos
.
abduzidos
pela dimensão da memória
pudemos então voltar
e refazer o percurso
.
e ele lá estava
onde sempre estivera
.
em doce e paciente espera

.
(dedicado a AG)
.
----------------------------------------------------
.
Continuo desplugada do universo internético.
Agradeço a todos os amigos pelos sinais de afeto que por aqui deixam.
.
Beijos, carinho.
.
----------------------------------------------------------------------------------------

quarta-feira, abril 26, 2006

parece até displicência
tanto tempo de ausência
mas ando numa roda louca
e um tanto desplugada
minha voz que já é rouca
revela-se irritada
esgota-se sem paciência
de chamar quem tem a ciência
para me conectar
devolvendo-me o prazer
em postar e comentar
.
um expert em informática
não entende que sinto saudade
- acho que é pura maldade –
da minha vida performática
.
mas não perco a esperança
de tudo se normalizar
aí vai haver festança
volto a usar a gramática
faço a maior lambança
e para celebrar a aliança
com vocês, amigos queridos
conjugo o verbo amar...
laço nunca rompido
.
Beijos, carinho.
.

sábado, março 25, 2006

À SENHORA DAS DORES

...












...
...
...
De muita dor meu cantar.
Amargura que o sofrimento da cria
Provoca no escavado da gente.
Angústia frente à impotência,
Punhal cravado na carne,
Olhos secos de aflição.
Mas tu ouviste meu pranto.
Teu olhar fixou-se em meu peito,
Arrancaste de lá meu tormento.
Quando contemplei tua imagem
Toda vestida de roxo,
Eras o semblante da dor.
A adaga, tu a enterravas
Em teu próprio coração.
Lágrimas na minha face
Teimavam em não escorrer, pois
Tu as choravas por mim.
Qual promessa aspergida,
De ti emergia esperança.
Oh Mãe, Senhora, Maria!
Jamais posso esquecer:
Em meu lugar tu sofreste.
És ícone e presença.
És a verdade do amor.

...

quarta-feira, março 15, 2006

variações sobre o invariável

I
areias
quentes e ásperas
me entranham
me lanham
sem sombra
caminho
me arrasto
me arruíno
em meus passos
retorno
.
ásperas
quentes
areias
ou anéis
(destino em círculos)
me invadem
me envolvem
se fazem
anelo
.
.
II
por sobre a sombra
das pegadas que deixei
volto
concêntricos rastros
me acolhem
.
são teus os passos
aos quais retorno
...
... //...
.
.
Ganhei um presente belíssimo de Dora Vilela.
Para quem quiser ver-ler-sentir: http://pretensoscoloquios.zip.net
A você, dora-poeta-poesia, o meu coração agradecido.
..

domingo, março 12, 2006

Sussurro

Desvenda esse ar
que sopro
aos quatro cantos da terra.
.
Recebe o vento
e responde
apenas sim
nunca talvez
ou não.
..
... //...
...
Um presente a mim foi soprado pela voz de Dora Vilela.
Chegou na brisa do afeto e da poesia. Envolveu-me.
Agora sou só contentamento.
E a cada minuto flutuo sobre o: http://pretensoscoloquios.zip.net/
.

quinta-feira, março 09, 2006

Uma tentativa sofisticada...

Não fora a cumplicidade das rosas
Talvez o mundo tivesse acabado naquele instante
E por onde andariam meus passos
Tortos, capengas, talvez
Mas sempre céleres
A me derrubar em teus braços
.
Sorrias de meu desajeito
E eu suspirando nuvens
Pensando envolver-me em poesia
.
Passada manha
Me aninho em teu paço
Passo o que faço
Faço a passo
Apenas posso
versos de pé quebrado
Mas sempre céleres
A me...
.
-
cuidado! a poça!
.
tarde demais.
eis-me outra vez
submersa.
na fossa
...
.
- destrambelhada!..
...

quarta-feira, março 08, 2006

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Quando percebo que só sei falar sobre o dia internacional da mulher falando contra o machismo.
Quando constato que por mais que se denuncie e lute ele permanece indestrutível. Permeando todas as camadas sociais. Norteando nosso imaginário e nossas ações. Caricaturando o ser feminino. Moldando o ser masculino. Sendo o agente desequilibrador de qualquer relação. Fazendo valer a lei do mais forte. Quando vejo que estou me repetindo resolvo trazer de volta partes do texto publicado no ano passado. Ele é um pouco caótico e me lembro, feito no impulso, na revolta. O texto pinça algumas formas de manifestação do machismo. Revoltantes formas. E por ele fui duramente criticada, pois o 8 de março reflete os avanços e as conquistas da luta contra o machismo, merecendo assim ser festejado. Na época reexaminei o que havia escrito e resolvi que neste ano faria uma grande festa por aqui. Tentei. Juro que tentei. Não consegui.
Assim, peço licença para deixar o meu escrito passado...
.
O que dizer para a mulher espancada pelo marido bêbado, desempregado crônico.
O que dizer para ela que, ainda por cima, ouve da vizinha de barraco – se apanhou foi porque mereceu.
O que vou dizer para a mulher-menina que mal alcança a janela do carro, quando ela dança na boquinha da garrafa, em troca de um trocado.
O que dizer, quando é recompensada por algum safado.
O que posso falar para a mulher, mãe a espera do filho na porta da FEBEM, quando recebe de volta um cadáver, sem uma justificativa ao menos.
Que respostas dou à mulher arrastando os próprios filhos por uma cidade que os chuta como se fossem trastes.
Como encarar a mulher que deu tudo o que tinha para salvar a vida do filho jurado de morte tão cedo.
E para aquela que mesmo trabalhando dobrado recebe a metade.
O que responder para a mulher-gerente-de-rh que diz para outra – você é bonita demais, inteligente demais, não tem o perfil.
Como conversar com a mãe, orgulhosa do filho, que com apenas 13 anos já é um pegador de menininhas.
E com as orgulhosas mães das menininhas.
E com a que instiga o filho - se apanhar na rua tem que bater.
O que comemorar com mulheres-damas-de-ferro, as que contrariam o destino, parindo a guerra.
.
Quisera fazer festa. Infelizmente só consigo gritar.
.
... //...
.
Dedicado às mulheres sem voz, dedicado às vozes de mulheres que abriram caminho, dedicado a alguns homens que se juntaram a nós. A todos e todas que sonham e lutam para que a humanidade seja apenas e tão somente... humana.
.

sexta-feira, março 03, 2006

NAVEGANTES

Tirou os óculos. Pousou-os sobre a mesa. Passou as mãos pela testa, recompondo-se. Com um longo suspiro, encarou-me.
- Depois de tudo, como me vês?
- Alguns fios brancos na barba por fazer, camisa impecável, as mesmas mãos ambíguas...
- Não é disso que falo...
- ... e o olhar de sempre. Nada mudou. O olhar que me vê está aí, intacto.
- Um pouco decepcionada comigo, talvez...
- ... já deverias saber que navego em outra dimensão.
- Não entendi.
- Recurso para sobrevivência.
- Continuo sem entender.
- Meu afeto por ti não está condicionado ao que fazes ou deixas de fazer. És tão determinado e tão livre! Não há outra forma de te amar a não ser liberta e incondicionalmente. E é nessa dimensão que navega meu barco. Aquela em que o horizonte se estende e assim se perpetua...
- Chegando a lugar nenhum. É o que estás querendo dizer?
- Não. Pois há um porto. Um único porto. Teus olhos... carregando neles os meus. Nada mais importa. A não ser navegar... infinitamente...
Com mãos calmas apanhou de volta os óculos. Ajustou-os ao olhar. A conversa parou. Nossas âncoras se encontravam.
.
Da parede, o canto inoportuno do pássaro lembrou-me as horas.

.

quarta-feira, março 01, 2006

Campanha da Fraternidade - 2006






















...
...
...
Objetivos
.
Um dos principais objetivos da Campanha da Fraternidade-2006 é apresentar a realidade das pessoas com deficiência e as iniciativas para promover sua dignidade.
.
Um outro objetivo é promover a autonomia dessas pessoas, fortalecendo organizações e movimentos; criando mecanismos para sua participação efetiva, como protagonistas de sua história, na família, na Igreja e na sociedade, mostrando os valores evangélicos que devem orientar o relacionamento com as pessoas com deficiência.
.
A participação de toda a sociedade para alcançar esse objetivo é fundamental!
.
Extraído do site:
www.editorasalesiana.com.br
que contém tudo sobre a CF-2006
.

sábado, fevereiro 25, 2006

imortal

segue o teu destino de filha
volta à casa do Amor
lá dois braços te esperam
te abraçarão com carinho
e será tanto o aconchego
e será tanta a alegria
que sentirás como se nunca tivesses saído
conosco ficará
o que nos deixaste
mais do que a vida
vindo do Pai
ficará em nós
o amor nela vivido
e que em nós derramaste
este não se apaga
não morre
jamais
.
(a ti, minha querida e ao Pai que te acolhe)
.

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

TRAVATROVA

GORDA A VIDA
GORDA A POESIA
.
TROVA TRINADO TRINANTE TRINADOR
.
COLA ESSE PERFUME AO PEITO
. E
GIRE DANCE
DANCE GIRE
GIRE LAMBE
DANCE
.
TRINA TROVA
SIBILA ESSE PASSEIO
SUBA
.

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

surpreendente


...

















..
....
19 de outubro de 2005
dias depois de ter escrito o texto
Anatomia de um Sonho
sou encontrada por esta foto
d' O Estado de São Paulo

.
os arcos da catedral vieram até mim
como se atendessem a um chamado
.
desde então emolduram
minha surpresa, meus devaneios,
meu espanto...
...
Agradeço a:


...

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

ANATOMIA DE UM SONHO

I
A FOTO
.
Sabíamos para onde nos levava aquele trem. Únicos sons, o da locomotiva e o do choro do menino em febre. Dividi com ele a pequena coberta que agasalhava as minhas pernas. A mãe levantou-se por uns instantes, remexeu seus pertences. Eu a via de costas. Parecia que recortava alguma coisa. Com dificuldade voltou para perto de mim e com um olhar de agradecimento, entregou-me a metade de uma foto. Magnífica. O ângulo inusitado fez com que eu demorasse uns instantes para entendê-la. Múltiplos arcos góticos. De cima para baixo. Surpreendentemente não me vi sob e sim, fazendo parte deles. De dentro para fora. Do escuro para a claridade da praça onde um velho e uma criança, sentados num banco, pareciam esperar. Estáticos.
O ar já se tornava escasso no vagão superlotado. Começava-se a ouvir um ou outro gemido, um ou outro lamento.
Sabíamos para onde estávamos indo. E eu tentando decifrar aquela foto.
A velocidade diminuindo, diminuindo...
As portas foram abertas com violência. Um vento gelado chegou até nós.
Agarrei-me à visão da foto e segui a manada silenciosa. Estava dentro do instantâneo. Era o instantâneo. Por antecipação, transformara-me na abóbada nele retratada.
Lá fora, a estática claridade da praça parecia esperar. Sabíamos.
.
II
A MULHER
.
Ah, como gostaria de ter a posse da minha voz naquele instante. A ti perguntaria o significado de tão inesperada oferta, pois não conhecias nada sobre mim. Flagrada por uma grande angular, a partir de inusitado ponto de vista, tu me entregavas a catedral de minha cidade. Ela, inteira. A foto, um pedaço. O que terias reservado ao cortá-la, o que pretendeste guardar, não saberei. Deixaste comigo os arcos de visão perturbadora e em primeiro plano um sorriso. Entregaste-me o sorriso de teu filho. Teu próprio filho. Embora sem uma troca de palavras, nossos olhares se entendiam. Eu sabia que tu sabias para onde estávamos indo. Naquele vagão, talvez só nos duas soubéssemos. E as contradições ali, todas aparentes. Tínhamos um passado e um futuro nos esperando na claridade da praça. Em nossas mãos apenas um pedaço de teu presente que dividias comigo. E eu, parte da abóbada em grande angular, esperando a hora de descer, pois já se ouvia o apito do trem.
O ritmo da locomotiva foi-se arrefecendo até restar apenas um sopro.
Com a brutalidade que lhe era peculiar, aos gritos, a soldadesca abriu as portas.
Do pesado calor ao vento gelado. Do escuro a um flash de luz. Sabíamos para onde estávamos indo, mas o clarão do dia cegou-me durante uns minutos. Mãos muito brutas nos empurravam. Perdi-me de ti. Levaste as respostas. Deixaste-me parte de teu tesouro e a sensação de perplexidade. Acostumando-me à luz caminhei em direção ao banco onde me esperavam o velho e a criança. Estáticos.

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III
OS ARCOS
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Não é possível. Devo ter enlouquecido, pois me flagrei a conversar com arcos. E que arcos! Góticos. Sobrepostos. Majestosos. Formavam a abóbada de uma catedral. Eu incrustada bem ao centro, fazendo parte dela. E perguntando sem parar, precisava reencontrar a mulher e as respostas. Do alto olhava para baixo. Do lusco-fusco via a claridade lá fora. Aninhada tentava desvendar o mistério que a tudo envolvia. O passado e o futuro ainda me esperavam. Estáticos. De repente, pela primeira vez ouvi a voz dela. A mulher. Suave. Falta um vagão ao trem. Soltei o corpo. Ainda que em câmera lenta, agora sim, sabia para onde e para quê estava indo. Para a luz. Para a praça lá fora. O presente que me fora doado pelo afeto da enigmática mulher, este carreguei comigo. Juntos tínhamos muito trabalho pela frente. Instalei-me entre o velho e a criança. A cena adquiriu movimento.

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- Corta!
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(Inspirado n'O Pianista e dedicado à Santa Edith Stein)
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sábado, fevereiro 11, 2006

O POETA E A CONTISTA

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olhar que vira imagem
que vira palavra
que vira olhar
que vira...
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dinâmica excitante
olhares visitantes decifram detalhes
recodificam - poetizam
olhares
vêem-se em minhas imagens
revelam-me
deixam em comentários a poesia que se engasgou em mim
olhares que salvam



...
o olhar do poeta Nel Meirelles
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salvar o como
antes que o porquê
o devore.



...
o olhar da contista Euza Noronha
...
Intoleravelmente devagar ela abriu a caixa. Antes a revolta fora súbita. Mas o cheiro da saudade amainou as cores da raiva. O quarto ganhou tons pastéis. E seus movimentos eram lentos como lento era o movimento da estrela que a guiava.Em perfeita sintonia de dedos e vontades espalhou os papéis pela cama. Nunca eles tinham se tornado uma presença tão viva. Não passavam de sonhos mortos. Era o que ela queria dizer a eles. Mas não havia voz nela. Só mãos que os alisavam e olhos perdidos em outro tempo.Com a mesma lentidão metódica tirou as folhas do fundo da caixa. Silenciosamente mortas. Como se fosse imperioso manter a vida entre as mãos, pegou folhas e flores da jarra. Abraçou-se a elas e deixou que suas lágrimas as fizessem ainda mais viçosas. Depois, com indisfarçável esforço, colocou-as, uma a uma, sobre as letras espalhadas pela cama. Empoeirada e vazia, deixou que o tempo passasse por ela enquanto mergulhava na dor das lembranças.
Até que uma energia impalpável e obstinada irrompeu dentro dela. De imediato abriu a janela e deixou que o vento entrasse. E folhas, flores e cartas misturaram-se pelo chão. Olhou a primeira estrela que brilhava ao longe e chamou pela empregada. Fizera o funeral, era hora do enterro. Desprendera-se finalmente. De letras, de lembranças, de saudade. O olhar que acompanhou a vassoura pelo chão do quarto era de uma vencedora. Renascera como planta forte e viçosa. Audaciosamente viva.


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Estando minha palavra sem salvação, salvo aqui a palavra de dois de meus mais antigos comparsas.
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segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Salvar como...

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Fotos by Lily
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quarta-feira, fevereiro 01, 2006

dos desertos e das esperas

marcar a espera
em tempo presente
requer instrumento
construído à perfeição
onde caibam os desertos
de passado
pouco mais que imperfeito
.
deixem-se escorrer as areias
deitada, rendida em presságio
ampulheta vazia das horas
inventa o futuro
imperativo da voz
.
faz do verbo
o infinito
...
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(Dedicado ao Dagô)
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sábado, janeiro 28, 2006

Nos tempos da Maria Fumaça

Santo Inácio
Jacaré
Angico
Monjolinho
.Nosso trem
Tem sede e fome
Bebe água
Na parada
Põe mais lenha
Na fornalha
Faz ferver essa caldeira
Por favor
Mestre foguista
Tenho pressa de chegar
.
Santo Inácio
Jacaré
Angico
Monjolinho
.

Passa boi pensando na vida
Passa pé de manga cheirosa
Passa a casa da fazenda
Varandas em floração
Tem rio apostando corrida
O lago refresca o olhar
Reflete a luz e a paz
Lá vem o colono tranqüilo
Voltando do cafezal
P’ra co’as galinhas jantar
O sol se pondo na encosta
Dormitando nos dormentes
Os trilhos traindo as trilhas
Da virgem mata intocada
Apita na curva
Resfolega
Sobe o morro devagar
P’ra mais à frente engatar
.
Santo Inácio
Jacaré
Angico
Monjolinho
.Já vejo a torre da Igreja
Do Bom Jesus ouço os sinos
Bênçãos da cana verde
Os acenos na porteira
Das crianças penduradas
Indicam que já está perto
Agora seu maquinista
Mostra que é especialista
Puxa a alavanca com força
Olha, está cheia a estação
Anuncia a nossa chegada
Capricha no último apito
Contente escuto em refrão:
O nome
da cidade
amada
Onde o mais simples
ribeirão
é
bonito
.
.(Dedicado à Eliane, caipira daquelas bandas)
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ADORO TE DEVOTE

Oração composta por São Tomás de Aquino
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Eu te adoro com afeto, Deus oculto,
que te escondes nestas aparências.
A ti sujeita-se o meu coração por inteiro
e desfalece ao te contemplar.
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A vista, o tato e o gosto não te alcançam,
mas só com o ouvir-te firmemente creio.
Creio em tudo o que disse o Filho de Deus,
nada mais verdadeiro do que esta Palavra da Verdade.
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Na cruz estava oculta somente a tua divindade,
mas aqui se esconde também a humanidade.
Eu, porém, crendo e confessando ambas,
peço-te o que pediu o ladrão arrependido.
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Tal como Tomé, também eu não vejo as tuas chagas,
mas confesso, Senhor, que és o meu Deus;
faz-me crer sempre mais em ti,
esperar em ti, amar-te.
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Ó memorial da morte do Senhor,
pão vivo que dás vida ao homem,
faz que meu pensamento sempre de ti viva,
e que sempre lhe seja doce este saber.
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Senhor Jesus, terno pelicano,
lava-me a mim, imundo, com teu sangue,
do qual uma só gota já pode
salvar o mundo de todos os pecados.
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Jesus, a quem agora vejo sob véus,
peço-te que se cumpra o que mais anseio:
que vendo o teu rosto descoberto,
seja eu feliz contemplando a tua glória.
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... //...
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Extraído de:
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Hoje, 28 de janeiro, dia dedicado a São Tómas de Aquino
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