quarta-feira, março 30, 2005

SEM SENTIDO

,
Lê-me nas tuas entrelinhas
É lá que minh' alma se engata
Quando o coração descarrilha.

(Dedicado a Rollo May)
,

domingo, março 27, 2005

POR AMOR

Por amor me transformei no vento
A levar seu eco
A soprar seu canto

Por amor me abri estrela
A iluminar seu rastro
E apagar seu medo

Me tornei criança
Que brinca, que foge
Que corre, que abraça

Por amor eu me fiz mistério
Por amor eu me vi deserto
Olho no olho
Passo a passo
Verbo no verbo
Conquistei caminhos

Por amor me reparti em doze
Me religuei cordeiro
Me transmutei suave
Me transpassei de dores
Entreguei minha voz
Meu corpo, alma e coração

Por amor, por você
Adormeci no inferno
Enfrentei batalhas
Ao terceiro dia
Explodi sublime
Me encontrei sereno
A me recomeçar.

(Dedicado aos amigos que por aqui passam, parceiros na celebração do Amor)

Feliz Páscoa!
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terça-feira, março 22, 2005

ROGATIVAS

I
Vem...
Prende-me
Nas doces vagas de teu olhar atônito
Embala-me
Na brisa nobre de tua voz poética
Carrega-me
Com firmeza em tuas pegadas vastas.
Vem...
Transforma-te em oásis
Nas secas dunas de meu coração.



II
Vem...
Traze tuas mãos aladas
Leva-me da ilusão rasteira
Para um concreto vôo.
Rapta-me em arroubo e ar.

Faze-me
Volteio em sonhos
Sobrevoando mares.

Cumpre-te
Escancarado anseio
Planando por desertos.

Seremos
Sede e alento,
Hálito em aspiração,
Dúvida na certeza,
Involuta revoada.
Aves livres na presença
Da tormenta serenada.
Vem!

(Dedicado a Santa Catarina de Siena)
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Continuo com saudades... Beijos, carinho.
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sábado, março 19, 2005

NOVAS ÁGUAS

o que pede a elas
meu coração delirante
um rio de trocas
porto de passagem
uma paixão tropical
miragem do mar
silêncio amoroso
amarrado nas amarras
do atol enxurrada
só uma vez
revés de aluvião anseio

o que pede a elas
meu coração insensato
que, ora se encharca, ora se encolhe
em afogada calmaria
meu espanto, meu pranto
meu confronto e meu conforto
minha desolação
uma vez só uma vez
no mistério das ondas
se destino sede escolha
quem me dera
ser-te apenas navegante.

(São José, pelo menos hoje, no nosso dia, responde-me...)

(Algum tempo depois, já ouço tua voz. Obrigada.)

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Preciso dizer aos amigos que por dificuldades técnicas não tenho retribuído às visitas.

Em breve estarei matando minha enorme saudade. Agradeço a todos pela paciência e...
Beijos, carinho.
,

quarta-feira, março 16, 2005

ÁGUAS DE MARÇO

dizem que fecham o verão
(mas)
sequer sabemos os rumos dos colchões
que a enxurrada carrega.
tampas de fogões,
brinquedos boiando nos becos,
um pé de sapato pobre descalço
(o que terá sido de seu par)
são águas banhadas na acidez
que o progresso expele,
trazendo para as calçadas
a incapacidade humana de se humanizar.
águas de março,
procura de vida,
mortificando o que resta
até o outono chegar.

para o povo penitente
que já não mais se agüenta
sendo alagação e enxurro,
águas de março,
que tragam o diferente
ânimo lavando canseira,
aquela semente regada
na corredeira da esperança...
a mudança de estação.

(Enviado a São José)
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quarta-feira, março 09, 2005

O OLHAR POÉTICO

Alguns pensamentos desconexos...

Se procuro o que é bom e belo tendo-os de antemão definidos, restrinjo a minha busca a um simples olhar no espelho.
Vejo-me, narcísica, a me contemplar e a realimentar minha cegueira.
Moldura apagada, deixada à sombra, é tudo o que está ao meu redor.
É o olhar da ignorância, da incompreensão, do desdém. Nega a existência da vida. Aparta e divide. É capaz de destruir e aniquilar.
Mas toda aventura humana que se traduziu no bem e no belo, partiu do olhar poético de alguém sobre o mundo, sobre o outro, sobre as coisas.
O olhar alfabetizado na sintaxe da poesia concentra-se, também, fora de si mesmo. Observa, apreende. Contempla. Permite-se a abertura dos sentidos, decifrando e aceitando o sentido inerente a tudo.
Sem sentimentalismo, o que torna uma coisa bonita ou feia é o meu olhar sobre ela.
Se é de aceitação, o cosmo, a mim, se revela. Sai das trevas.
Se é de interesse, o outro, a mim, se desvela. É compreendido. Ilumina-se. Ao se iluminar acaba por iluminar-me.
O olhar poético, o da emoção e do sentimento, leva-me ao encontro do outro, trazendo-o para mim. Na aproximação, a descoberta da beleza e da bondade, atributos de todos os seres humanos.
A visão poética é assim, humanizante.
A única capaz de ler "os vestígios de esperança que tornam a vida mais humana".
A única capaz de fazer da vida uma possibilidade concreta, verdadeiramente boa, verdadeiramente bela.
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... e como é bom delirar.
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(Dedicado a todos os blog-amigos, parceiros pelos caminhos dos delírios poéticos.)
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terça-feira, março 08, 2005

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

O que dizer para a mulher espancada pelo marido bêbado, desempregado crônico.
O que dizer para ela que, ainda por cima, ouve da vizinha de barraco – se apanhou foi porque mereceu.
O que vou dizer para a mulher-menina que mal alcança a janela do carro, quando ela dança na boquinha da garrafa, em troca de um trocado. O que dizer, quando é recompensada por algum safado.
O que posso falar para a mulher, mãe a espera do filho na porta da FEBEM, quando recebe de volta um cadáver, sem uma justificativa ao menos.
Que respostas dou à mulher arrastando os próprios filhos por uma cidade que os chuta como se fossem trastes.
Como encarar a mulher que deu tudo o que tinha para salvar a vida do filho jurado de morte tão cedo.
E aquela que mesmo trabalhando dobrado recebe a metade.
O que responder para a mulher-gerente-de-rh que diz para outra – você é bonita demais, inteligente demais, não tem o perfil.
Como me dirigir à mulher-pura que olha para outra mulher com olhar de desdém.
Como conversar com a mãe, orgulhosa do filho, que com apenas 13 anos já é um pegador de menininhas. E com as mães das menininhas.
E com a que instiga o filho - se apanhar na rua tem que bater.
O que comemorar com mulheres-damas-de-ferro, as que contrariam o destino, parindo a guerra.

Estou sem ter o que dizer.
De repente a memória me traz a figura sorridente da Ir. Dorothy... aquela que mesmo abençoando seus assassinos não conseguiu estancar o disparo da intolerância.
Quisera fazer festa. Mas frente à tanta insanidade... só consigo gritar.
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domingo, março 06, 2005

ENTRE ASPAS

Amar... apesar de tudo!
Amar... apesar do medo, da ansiedade, da angústia, da incerteza.
Amar... apesar do passado, do futuro... apesar do presente.
Amar... apesar dos impasses, das dificuldades, dos problemas.
Amar... apesar das impossibilidades.
Amar... apesar do mal, da destruição, da ameaça, do coração de pedra.
Amar... apesar da separação, da indefinição.
Amar... apesar da sombra.
Amar... apesar do outro.
Amar... apesar de mim.
Amar... apesar de Deus.
Amar...
Hoje, mais que nunca, amar.
Amar... a porta que dá acesso ao jardim.


A poesia acima foi extraída do livro “Amar... apesar de tudo” de Jean-Yves Leloup, filósofo, padre ortodoxo (hesicasta), teólogo, autor de numerosas obras de espiritualidade, conferencista. Primeiro livro dele que li. Ou fui por ele relida. Este olhar, o libertador, o da independência, me acompanha desde então. Nada mais me prende se apreendo as dimensões do amar. Procuro ir em frente, apesar dos pesares. E no titubeio, volto-me para este olhar e me deixo olhar também.

Dedicado às mulheres.
Dedicado aos homens.
Dedicado às jovens, aos jovens, às crianças.
Dedicado a todos, enfim, seja qual for o credo, a raça, a classe social, a profissão.
Pois chegará o tempo em que não haverá mais necessidade de um dia para a mulher.
Todos os 365, serão do Amor.
Apesar de...
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sexta-feira, março 04, 2005

SOU CAIPIRA PIRA-PORA-NOSSA

Eu não consigo andar bem
Vivo o maior rebuliço
Chego a imaginar também
Que me puseram feitiço

Sempre muito magoada
Sempre muito saudosa
Não levo a vida ditosa
De mulher apaixonada

Mas há algo que existe
A coisa até que é jeitosa
Meu coração não resiste
Pois é graça preciosa

No doce toque da viola
Tudo muda de repente
É ela quem me consola
De triste, passo a contente

Ao pontear com o Almir
Me arrasta Renato Teixeira
Ensaio um novo sorrir
Sinto-me até mais faceira

Arrisco meu sonho de amor
Com cheiro de mato apeiro
Rendo-me ao vivo calor
Ardendo não só co’a viola
Se em brasa me olha o violeiro

(Dedicado a Patativa do Assaré)

quarta-feira, março 02, 2005

O ECO - A SEDE - O AMOR

dá-me de beber. .tenho sede.. olha o fundo do teu poço escuro.. amedronta-me este desejo que não tem fim.. estarei junto a ti.. o deserto ressecou meu coração.. a água foi derramada em todos os corações.. espero por aquele que me saciará
todas as sedes.. eu sou a água viva.. mas eras tu a me pedir o que beber..
a esperança não decepciona.. nem sequer tens uma caneca.. beberei junto a ti..
e me arrancarás do deserto?. sim, mata a minha sede.. é da minha secura a tua sede!. vem, dá-me de beber, pois é desta sede que falo.. agora pressinto..
vem, somos. . .... o amor!. o amor, vem.
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(Referência: Leituras do Terceiro Domingo da Quaresma)