sábado, maio 27, 2006

pensamentos em uma tarde de abril

a linguagem é curiosa
a cada palavra o infinito
dos significados ocultos
e das inúmeras contradições

a cada momento um sentido
possibilidades, direções

.
sintagmas de nomes, de fatos

.
para além do tempo vivido
- e este se finda -
o que fica é o paradoxo
do presente

tatuado pela chama
do gozo
sublimado
.
(ainda dedicado a AG)
.

quarta-feira, maio 24, 2006

inominável

semana de desmarcar
reorganizar
concentrar compromissos
fabricar e deixar que amanheça
um dia
.
frio, neblina
ou seria a fumaça do café
camadas da expectativa
a rotina dos jornais nos jornais
que logo cedo desbotam cena tão planejada
.
mais um dia
mais um ou quantos dias
estarão presos às paredes
o movimento dos véus e das cores
e a bailarina musa
.
tantas dívidas sem cobrança
tanta injustiça caiada
mortes sem dono ou cuidado
tanta trabalho a ser feito
cuidar de celures e baterias...
e o poder público
interrompe a energia
tentando mostrar serviço
ou o poder sem poder
.
em meio ao vai-e-vem da moeda
ironicamente
o órgão que deve clarear
apaga o poeta da luz
.
(... francamente, eletropaulo, vá estudar um meio para impedir que os presidiários recarreguem as baterias dos celulares e/ou vá estudar uma forma para ajudar o MASP a saldar a dívida. não nos prive de alegria, arte e poesia. estamos tão precisados...)
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quinta-feira, maio 18, 2006

sem nome

recolheu as duas
aquela em que a todo entardecer se sentava
e a outra
a que amanhecia
.
passou a tranca na porta
vestiu-se de véus
tomou um gole do absinto
imaginou-se bailarina
.
a noite encontrou-a em rodopios frenéticos
d' Orsay era seu palco
e havia força naquela solidão
presa às paredes
.
(dedicado a ED)
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terça-feira, maio 16, 2006

...

obombeirocorredavelhinhaquecor
redocachorroquecorredasireneque
corredocarteiroquecorredomajorqu
ecorredogariquecorredaestudantequ
ecorredosanguequ

.............................e
...............................s
................................c
.................................o
..................................r
...................................r
....................................e

...................................
........
................................... .....
......................................
..............................................

............................
.................................................sampaescorrehorror

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Poema-comentário de um pernambucarioca apaixonado por São Paulo:
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sampa em medo
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vi sampa clara
com suas tortuosas
trilhas banhadas
de manhã no dezembro
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um surdo mudo
despedaço de serra
libertário-libertino
que marca o eco
do meu pavor
de me chocar com um momento
qualquer do infinito
e deixar de ser
Nel Meirelles
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Comentário-desabafo deixado por CRYS do blog Jardim de Letras:
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Como estão se tornando cada vez mais tristes nossas cidades... Aspecto de guerra, portas e janelas gradeadas, pontiagudas grades, muros descomunais! Tudo tão soturno, sibilo de balas mortais. Nas praças, murmúrio...Olhar perdido, feições carregadas de medos...Crianças! Não conhecem o brincar de roda,Uma geração escravas da televisão, do videogame, do computador...Geração tristonha...Ah, como estão cada vez mais ermas e violentas as ruas das nossas cidades...É triste contemplar uma cidade de 12 milhões de habitantes praticamente vazia, de joelhos frente ao crime organizado. É muito triste!
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Poema-comentário de CECI do blog Viver Melhor:
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A Joana
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A moça caiu de paixão pelo mocinho,
no morro choviam papelotes,
fuzis AR 15 brincavam com os dedos das crianças no plantão,
A moça, tão generosa, não quis ouvir o aviso,
fuzis não mandam flores!
Do outro morro, conhecia os "meninos" do outro lado,
E foi aí que uma voz conhecida,
na madrugada,
chamou a moça,
balas comeram seu corpo
tão jovem morena brasileira...
Pela janela do barraco,
a filha pulou,
escorregando com o irmãozinho,
ribanceira abaixo, safou-se ligeira,
buscando o colo da avó,
bem longe dali,
Para sempre Joana,
aprendiz do medo,
não se viu mais na escola de ontem,
o caderno para sempre,
manchado de sangue.
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quinta-feira, maio 11, 2006

a garoa
envolveu-nos
transportou-nos
.
abduzidos
pela dimensão da memória
pudemos então voltar
e refazer o percurso
.
e ele lá estava
onde sempre estivera
.
em doce e paciente espera

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(dedicado a AG)
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Continuo desplugada do universo internético.
Agradeço a todos os amigos pelos sinais de afeto que por aqui deixam.
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Beijos, carinho.
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