quarta-feira, novembro 05, 2014

CENAS

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sábado, outubro 11, 2014

NO DIA DAS CRIANÇAS

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O Velho Lenhador que sempre fora bem-disposto, há várias semanas sentia-se insatisfeito. Nos últimos tempos sua aldeia, à beira da floresta, tornara-se desanimada. Muitas crianças e jovens haviam partido para cidades grandes. Precisavam estudar ou buscar novas oportunidades. A floresta não mais vibrava com o som das reinações infantis. A praça da matriz não mais recebia o alegre vai-e-vem dos footings juvenis. Sentiu que precisava fazer alguma coisa.
Naquele dia acordou mais cedo ainda. Abriu a janela e, como acontecia em todas as manhãs, encontrou o Bem-te-vi.
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- Bom dia, meu amigo. Hoje vamos realizar um trabalho importante. Voe pela floresta acordando a bicharada. Avise a todos que precisamos nos reunir daqui a pouco na nossa clareira. É assunto urgente.
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- É p’ra já... bem-te-vi... bem-te-vi...
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E lá se foi ele.
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O Velho preparou o café, derramou-o na garrafa térmica, reuniu alguns biscoitos, acomodou tudo em seu embornal, assobiou para o Perdigueiro e partiu rumo à clareira.
Chegando lá muitos o esperavam.
.- Estamos preocupados tentando descobrir o motivo dessa reunião, disse o Tigre, assumindo a função de porta-voz dos seres da floresta.
As árvores balançaram seus galhos concordando com o Tigre.
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- Fiquem calmos. Esperem só mais um pouquinho. Logo todos estarão aqui e eu poderei começar a reunião.
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O Morcego piscava duro para espantar o sono. Dona Maritaca e suas irmãs conversavam, fazendo a maior barulhada. O Carvalho, sendo o mais sábio da floresta, tentava pôr ordem naquela bagunça.
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- Olhem! A família Preguiça chegou. Não falta mais ninguém. Podemos começar, disse a Margarida.
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O Velho Lenhador expôs aos amigos o motivo de sua tristeza. Sentia saudades da alegria que crianças e jovens traziam para aquelas bandas. Precisavam trazê-los de volta.
.Seguiu-se uma algazarra, com vozes da vários timbres concordando ao mesmo tempo, até que o Leão rugiu forte. Todos se calaram instantaneamente para ouvi-lo.
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- Vamos anotar as idéias que estão surgindo e criar grupos de trabalho.
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Foi aplaudido.
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- Eu faço a ata da reunião. Era a Coruja, com papel e lápis na mão.
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O Velho deixava que eles se entendessem e se deliciava com o que começava a ser planejado.
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Iniciaram a votação e uma das propostas foi aceita por unanimidade. O passo seguinte foi a concepção de um cronograma. Resolveram que a primeira tarefa seria realizada coletivamente.
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Saíram pela floresta coletando o necessário para a execução do projeto. Troncos e galhos caídos. Penas coloridas que os pássaros soltam durante a troca de plumagem. Folhas, flores, sementes já secas. Até garrafas pet, papéis amassados, saquinhos vazios, cacos de vidro, lixo deixado por turistas inconscientes, tudo que encontrassem seria útil.
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Enquanto isso, o Velho voltou à aldeia para contar os novos planos e convocar pessoas para o trabalho. O senhor Marceneiro mais o Pedreiro juntaram as ferramentas. Prontos a ajudar, todos se reuniram na praça juntando e classificando o material que os bichos traziam. O senhor Sanfoneiro, a menina Flautista e o Mestre do bandolim puseram-se a ensaiar antecipando o clima da festa.
Criaram grupos de especialistas e... mãos à obra.
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Os pássaros, sob o comando do Bem-te-vi, foram despachados para todos os recantos do país, convidando os filhos da aldeia para o grande acontecimento. O Elefante ficou encarregado de organizar seus pares nos trabalhos mais pesados. O Esquilo e seus irmãos traziam as frutas para alimentar o pessoal. Dona Rosa agrupava as flores em ramalhetes. Dona Boleira, claro, fazia bolos e quitutes. Os cachorros abanavam os rabos.
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Foram 24 horas de trabalho incansável. Nosso bom homem era só cuidado. Ao nascer do sol, tudo pronto. A satisfação era vista em todos os olhares.
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Aos poucos os convidados começaram a chegar. Extasiados com a novidade. A roda gigante rodando. O algodão doce adoçando. Os braços se abraçando. O trem fantasma fantasmarogando.
Barracas, balas, balões fabricados com todo esmero era embalados pela música e pelas risadas.
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E o carrossel! Nunca se vira algo assim. Um carrossel com cavalos de verdade. Cheios de pose, enfeitados com plumas e flores faziam a alegria de crianças e adultos.
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Anoitecia e todos já se entristeciam. A cidade não tinha luz elétrica. Na escuridão ficaria impossível continuar os folguedos.
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Foi quando o Papagaio interrompeu, por alguns instantes, os pares que dançavam no coreto para anunciar mais uma atração. A um aceno seu, tudo se iluminou. Uma grande nuvem de luz sobrevoou a aldeia.
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- E vocês pensaram que os vaga-lumes iam ficar fora dessa?
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A Igreja Matriz que até então permanecera quieta, iluminou-se por si enquanto fazia soar os seus sinos
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Os aplausos ecoaram pela aldeia e a diversão continuou cheia de brilho.
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O Velho sentado no banco da praça mordiscando uma maçã do amor se encantava com o resultado de tanto trabalho. A algazarra das crianças, as paqueras dos jovens, os amigos-bichos, os amigos-gentes, os amigos-plantas, todos reunidos em um único reino. O da fraternidade.
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Olhando aquele imenso Parque de Diversões plantado no meio da praça nem sabia mais se estava acordado ou se cochilava. 

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Se realidade ou sonho? Não importa. 
.Nosso bom homem era só contentamento.
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Dedicado aos meus NETOS e aos afilhados que a VIDA me deu.
No dia das crianças... beijos, carinho, Galera!
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Meus agradecimentos ao Jadon, meu revisor.
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terça-feira, setembro 09, 2014

A torre

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Era apenas uma torre à beira-mar fez sua morada a convite e sob a proteção de Pedro. Os dois se revezavam na vigília. A cada navio que apontava no horizonte desciam os 456 degraus em correria. Desembestavam pelas areiasAntes que Pedro conseguisse chegar à praiaele sendo mais vigoroso
 estava pulando para dentro da pequena canoa. Ajudava seu benfeitor a subir e remava com todas as suas forças até o navio, a essas alturas, fundeado.
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Enquanto Pedro negociava com os feitores a imediata retirada dos mais debilitados, vasculhava os porõesCorpos amontoados, gemidos, o odor repugnante não se constituíam impedimento para a busca. Procurava por sua princesa. Um dia, encontrou-a. Semimorta, suja, a pele em chagasdesmemoriadaNem o reconheceu.
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Com dificuldade, driblando a vigilância, carregou-a até o esconderijoNinguém os seguira. Durante várias luas alimentou sua princesa. Sempre cantando as cantigas que os grilhões não conseguiram espantar, banhava-a.  Até que começou a ouvir aquela voz afinada, que tão bem conhecia, fazendo dueto com a dele. Ela se recuperava visivelmente. Os olhos negros tão familiares voltavam abrilhar. Contava a ele de como se sentiu perdida no dia em que foram violentamente separados. Da saudade em que se transformou sua vida. Descrevia também os efeitos da violência. A aldeia vazia. Dizimada. Remanescentes,  os velhos e as velhas. Até as crianças foram acorrentadas e arrastadas. Ele também falava a ela das dores que vivera. A dor de não conseguir compreender a razão de tudo aquilo que lhes acontecera, de se ver sem chão, da saudade e do medo de nunca mais revê-la. Da dor do tronco no qual constantemente pagara por conservar a altivezUm homem
revestido de nobreza não poderia se renderNunca. Contou-lhe ainda dabondade de Pedro que um dia o acolhera. Tinha perdido os sentidos depois de um sem
número de chibatadas e Pedro o recolhera no instante em que os feitores  o davam como mortoDesde então vivia naquela torre.
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Os dias passavam e os dois príncipes negros construíam uma
rotina de carinhoslembranças e sonhosSonhos de correr pelas matas, dos festejos na aldeiaSonhos de reencontrar os filhos que lhes foram
covardemente subtraídos. O corpo dela respondia aos cuidados. Arredondava-se. Sua pele cintilava. Os dois sentiam suas carnes arderem clamando por alforria.
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Pedro, homem sensível, inventou uma viagem. Jogou sobre o ombro esquerdo a bolsa de couro surrado em que guardava o manual eclesiástico, óleo consagrado, uma cruz e uma muda de roupa. Abençoou-os. Ausentou-se por três dias
três noites.
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Tempo suficiente para que uma simples torre à beira-mar se transformasse em castelo. E naquele momento os dois corações experimentaram uma enorme alegria. Estavam plantando uma semente. A de um novo reino, uma nova dinastia. A de um ébano a tal ponto soberano que tornaria impossível ao faro dos capitães-do-mato alcançar.
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Na terceira noite uma estrela brilhou. Pedro olhando-a entendeu que seus esforços não seriam em vão. A esperança renasce sempre que o amor se realiza. E os escravos dos quais cuidava com tanto carinho um dia, longe ou perto, ergueriam uma nação livre. Sorrindo viu que era hora de voltar. Havia ainda muito a fazer.
 .
(Dedicado a São Pedro Claver)


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domingo, janeiro 12, 2014

gotejante




................................................enquanto a chuva caía
................................................deixei que a alma dormisse
................................................à espera do novo
................................................não aquele que chega
................................................a explodir os tímpanos
................................................e a socar o estômago
................................................mas o que goteja
................................................minuto a minuto
................................................fazendo das horas
................................................quando solitárias,
................................................serenas
................................................se agrupadas,
................................................amorosas
...
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........... ...................................................................mais um ano se inicia
seguiremos renovadamente os mesmos.......
ou rotineiramente novos..............
não importa.......
   desde que nossos passos............
sejam os da delicadeza.......
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 .AdéliaTheresaCampos.........