sexta-feira, maio 25, 2007

O VELHO

Na esquina da surpresa
o velho deitava os ouvidos
já que os olhos secos não sabiam
para onde olhar
Era tanto o encantamento
que delirava música
com o simples assobiar do vento
Os dias assim se passaram
e ele já nem mais se importava
Incorporou as batidas
do surdo fundo da fome
aos violinos do vento
Transformou em manto
o paletó roto sem cor
Em coroa, em pedrarias
a propaganda desbotada do boné
Bastou um leve ressonar
sobre antigas notícias de jornal
para que tomasse posse
de tão nova realidade
Elevado a majestoso maestro
regia o concerto

em uma esquina qualquer
do reino da liberdade

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E os passos dos apressados não perceberam
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(dedicado a Roberto)
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quarta-feira, maio 16, 2007

reflexo

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na esquina da surpresa
esqueceu o embrulho
que abrigava a traição
..
e nunca mais
suas penas se agitaram
ou viram verso

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(dedicado a Décio Pignatari)
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quinta-feira, maio 03, 2007

Quarta Parada

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Mãe deixa a filha e se vai. É tanta dor que mergulho nas lágrimas alheias. Os perfumes das flores misturam-se, provocam náusea e sufocam um grito. Vozes graves desejam força. Fico pensando se é de força que precisamos nessas horas. Eu prefiro a fraqueza. Para chorar, perder os sentidos ou fazer alguma loucura. Ao pé do caixão – nem a conhecia – reflito clichês. A luz das velas levam o pedido. Que Maria a receba e acolha. Enquanto afivelam as cintas abraço os netos, procuro olhos amigos úmidos. Últimas amarras antes da liberdade.
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(dedicado à Rosana que ainda chora)
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