sexta-feira, julho 22, 2011

A PEDRA ROLADA

na alma o negror da morte
nas mãos os aromas
no coração um último esforço
em busca da esperança
a pedra rolada
os panos largados
o sepulcro vazio
meus olhos parados no escuro
espanto da condição humana

uma voz revestida de luz
com ternura pronuncia meu nome
afasta medo e dor
faz com que eu me veja
inteira apesar das trevas

na crua realidade o presente
mistério da eternidade

da minha própria fragilidade
leva-me a arrancar
um poder transformador

tudo foi colocado em minhas mãos
:
a verdade
o caminho
a vida
o amor
pelo amor
no amor

as escolhas... eu as terei que fazer


 À Santa Maria Madalena, no seu dia.

terça-feira, julho 12, 2011

Procrastinar

Entendi. Estás querendo me alertar. Vasculhei agendas, diários e vi que talvez tenhas razão. Quantos pedaços de mim largados nos becos escuros. Todos devidamente etiquetados, rotulados como medo, insegurança... não, não mais proclamarei em voz alta estes nomes. Não os acordarei. Tentarei ser doce, tratando-os pelos apelidos. Serei também firme ao pisar o corvo. Decidida, penso ter aprendido a lição. Detenho-me no exame das minhas anotações notando cada palavra, cada olhar. Há ali um chamado. Indefinido ainda, mas certamente um chamado. Treino o gesto de fechar as mãos para que possa impedir que o hoje me escape pelos vãos dos dedos. Já quase me sinto capaz, quando inesperadamente, um outro fantasma toma corpo. Este mais assombroso. Cai por terra a esperança de hoje atender ao chamado. De hoje ser, pois não sei o que devo ser... De hoje ir, pois não sei para onde...

sábado, julho 09, 2011

A VISITA

O brilho dos corredores, a luz filtrada pelas gelosias das amplas portas e dos janelões, por tudo atravessavam histórias e mais histórias. Acompanhávamos encantados a alegria serena. Passávamos pelas reformas para instalação da memória no sobe e desce de escadarias. Acolá o ponto onde tudo começou em resposta a um chamado do Pai. Mais vitrais magníficos, testemunhas de vidas consagradas ao amor. Ali eram atendidos os ex-escravos que chegavam famintos e doentes. Aqui os moradores de rua recebem alimento, medicação e conforto.

Mais alguns passos, repentinamente, os ruídos da movimentada avenida desaparecem. Os arcos, o pátio florido, perfumado, o canto dos pássaros, fazem um convite ao recolhimento. O tempo para. Não estamos mais no calendário. E nem em tempo algum. Apenas em um espaço-lapso. É quando o corpo se eleva. A alma toma corpo. O coração silencia. Somos a própria prece. Em estado puro. Estado de Graça.

No lento anoitecer, o toque de um sino e o aroma da sopa nos chamam de volta. É hora do jantar. À mesa antiga mostra-se concretamente a alegria de servir.
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Depois das despedidas levamos conosco as imagens do devotamento a Jesus, realizado no cuidado aos necessitados.
Para o nosso cotidiano, a moção. A possibilidade. A certeza de que no olhar do irmão que sofre está o chamado do Amor...
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Inspirado pelas Irmãzinhas da Imaculada Conceição, que tão alegremente nos receberam.
Dedicado à Santa Paulina, no seu dia.
Santa Paulina, rogai por nós!