domingo, outubro 23, 2005

REVOLTA

Só um santo dia
para a ablução
da dor em mente,
mas mentes
em mantras
intermináveis.
Seduzida por teu canto
eis-me aresta
a espera em rastro
arrasto.
Só um santo dia,
limpas do adultério,
as mãos...
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mas não,
mentes!
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(Inspirado em Jeremias e dedicado ao Chico de quem roubei só um santo dia)
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Escrevi este texto em resposta a um desafio do blog Loba, corpus et anima.
Lá foi publicado, tendo como título Yirmeyâhû, no dia 06/10/05.
Aqui rebatizado e levemente reformado...
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sexta-feira, outubro 21, 2005

m a n t r a

v.e.n.t.a..l.e.v.e
l.e.v.a..a.l.e.n.t.o
l.e.v.a..l.e.v.e
v.e.n.t.a..l.e.v.a
l.e.v.e..a.l.e.n.t.o
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v.e.n.t.a.l.e.n.t.o
v.e.m
!
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(Dedicado à Dione, sábia amiga, a quem pergunto: a récita deste mantra me levará aos campos da poesia?)
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sexta-feira, outubro 14, 2005

CORRESPONDÊNCIA DE AFETO

Querida,
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Há quanto tempo não vens
minha amiga e conselheira
Sem teus ventos e sopros
sinto a alma migrar
para longe d’Ele e de mim
Me abandonas assim
Só
Permites que eu solte
o espírito desbaratado
corisque de um mote a outro
como cavalo desenfreado
Às apalpadelas
vivo o desatino
destino do desamparo
ou porões, minha morada
Peço que novamente me indiques
-há tempos dela me perdi-
os caminhos da paciência
Vem, sinto tua falta
traze teus sugestivos versos
tuas dores e contentamentos
tuas agonias e o enlevo
tua elegância
És sempre bem-vinda
mesmo quando tumultuas
-e quantas vezes o fizeste-
minha já tumultuada mente,
meu desgovernado coração
Vem e o segredo virá
-pois bem sinto mora em ti–
fazendo-se inspiração revelada
E, se não for muito o pedir,
ao vires traze
os ares e o canto das aves de Ávila
para que eu pressinta
–e apenas pressentir já é alívio–
o despertar da beleza
Sabendo que és puro desvelo
eu atenta discípula me quedo
com carinho espero
por teus sinais, até mais...
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...//...

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Teus ais pude daqui ouvir,
sobrinha querida,
e preciso dizer-te
que Ele de ti não se descuida.
E lembra-te...
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O amor, quando já crescido,
Não pode ocioso ficar,
Nem o forte sem lutar,
Por amor de seu Querido.
Deus, de seu amor vencido,
Sempre o fará vencedor.
Que será ver-te, Senhor?
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...//...

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Quinze de outubro é o dia dedicado a Santa Teresa de Ávila
de quem tomei uma estrofe do poema “A Santo André”
para compor esta troca de cartas.
Os trechos em itálico são de Santa Teresa.
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É TAMBÉM NOSSO DIA
ABRAÇOS A TODOS OS PROFESSORES
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quarta-feira, outubro 12, 2005

NO DIA DAS CRIANÇAS

HISTÓRIAS DO VELHO LENHADOR.-- Está na hora. Preciso dormir. É seu turno.
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Desde há muito era acordado pela voz estridente da Coruja. Antes que o dia clareasse ela já estava batendo à janela.
Levantava-se, preparava o café, enquanto seu fiel escudeiro ia ver como estava o tempo lá fora.
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-- Hoje chove ou hoje faz sol... sempre acertava. Êta Cãozinho sensível! Perdigueiro dos bons.
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No embornal, apenas uma côdea de pão e a garrafa térmica. Não levava machado nem serra, pois era um lenhador diferente da maioria. Apenas recolhia os galhos que as árvores deixavam pelo chão.
À porta, os pássaros já o esperavam e lá ia o grupo proseando alegremente em direção à floresta enquanto o sol nascia.
Sempre o primeiro a falar, lá vem o novidadeiro do Bem-te-vi.
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-- Sabe que durante a noite nasceu o nenê da Girafa?
-- E foi tudo bem?
-- Sim ele até já está brincando pela clareira.
-- Eu é que não dormi nada, disse o Pica-pau.
Uma gargalhada geral.
-- E por que não dormiu?
-- O Esquilo, aquele que mora no andar de baixo, roncou a noite inteira. Um ronco tão forte que fazia tremer toda a árvore. Até parecia terremoto.
Riram muito, pois diariamente ouviam a mesma reclamação.
.A cabana era a última da aldeia antes da entrada da floresta. Rapidamente lá estavam e o velho lenhador ia dando os bons dias aos amigos que encontrava. Fazia a inspeção costumeira, no que era acompanhado pelo Grupo de Defesa da Floresta. Visitava doentes, resolvia alguns probleminhas. Hoje iria visitar o bebê girafa.
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Sim, havia naquelas bandas uma ONG criada para resolver os problemas internos da comunidade, suprir necessidades, principalmente para impedir a entrada das malditas motos-serra. O Carvalho, morador mais antigo, na verdade criador daquela floresta, era o presidente. Profundo conhecedor das demandas da mata, um sábio, sempre ouvido por todos. O vice era o Leão, encarregado de negociar com os madeireiros que porventura ousassem por ali aparecer. Vinham derrubar árvores para depois vendê-las. Punham em risco a sobrevivência do lugar. Mas quando o Leão aparecia, corriam. E quem gostaria de ficar cara a cara com ele numa negociação? O primeiro secretário era o Elefante que tinha como tarefa principal organizar o transporte da água do rio em caso de incêndio. O fogo, muitas vezes criminoso, apavorava a comunidade. O velho lenhador, além de presidente de honra, era presidente do conselho e intérprete. Era o único humano com quem os animais e as plantas conversavam. Único humano a quem confiaram o segredo de seus idiomas. Tesoureiro não tinha lá. Não havia precisão, uma vez que tudo se resolvia através de trocas. Principalmente trocas de afetos.
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As árvores mais altas, os insetos e os pássaros faziam a vigia. Conseguiam detectar qualquer comboio que se aproximasse ou qualquer início de incêndio. E sempre que o perigo fosse iminente todos eram convocados pelas Maritacas, e passavam a formar um enorme mutirão de salvamento quer apagando o fogo quer impedindo que gente malvada, interessada em destruir a floresta, pudesse ali entrar.
Viviam felizes, em harmonia. Cuidavam-se uns dos outros e do lar que era de todos. E davam exemplo para o mundo.
Tanto que o velho lenhador já está arrumando as malas. Pela primeira vez sairá de sua aldeia, de sua floresta. Vai viajar para a Europa, imaginem, acabou de ganhar o Prêmio Nobel da Paz.
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As Histórias do Velho Lenhador sempre as dedico aos netos e hoje não poderia ser diferente, meus” bunitinhos”... rs.
Expandindo a dedicatória, ela vai também para a Vida, para as crianças, para os bem jovens e para os nem tão jovens assim, todos os que me aceitam como avó... rs.
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No dia das crianças... beijos, carinho, Galera!
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domingo, outubro 09, 2005

REVOLUÇÃO

Quero outra vida p’ra mim
Uma que não dependa de planos
Que não me consuma as horas
Em lidas sem direção ou efeitos
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Quero livre a mente
Pensamento leviano
A alma solta no espaço
Forjados na imprudência
Passos a me afastarem
De tudo o que seja supérfluo
Me devolvendo o olhar
De auto-libertação
E que ainda de quebra me ensinem
A arte de restaurar corações
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Quero o frescor, quero a alegria
Que nascem num largo sorriso
Das crianças em folguedos
Dos namorados nas praças
Em bitoquinhas e juras
Dos aposentados e seus tênis
Sarados na ronda do bairro
Quero as cores e a melodia
Que vicejam nas feiras-livres
Minha gente se lambuzando
Nos sabores das frutas maduras
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Quero pisar as ruelas
De mãos dadas com as calçadas
Deixar que elas me ponham
Em marcha, em bailado de corpo
Rodando na ventania
Transformada inspiração
Hino venta leve
Leva alento
Às horas de sombra ou de sol
Ou de chuva ou de fome ou de sede
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Esta é a vida que quero p’ra mim.
Aquela que vem com o amor.
Só ele é capaz de trazer
Em cada pegada a surpresa:
Serventia p’ro meu canto,
Destino ao meu caminhar.
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(dedico à maria-menina, agradecendo pelo toque)

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quinta-feira, outubro 06, 2005

pessoal, subordinado e oblíquo

se sonho
se assumo
se assanho
se deito
se durmo
se sonho
se sofro
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se ando só
se desconjuro
se te conjugo
se me irrito
se salto atrás
se solto a dor
se faço verso
.
se minha rima não se realiza
se essa birra você não esquece
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é uma pena

é desperdício
é um suplício
é uma chatice

é teimosia
é solidão
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(para um birrento)
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terça-feira, outubro 04, 2005

ZAPPING

enquanto isso, tião e coleguinhas, nas rodas, nos bares, jogam conversa fora, riem, mostrando como é leve e faceira a vida no campo...
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duas crianças engolem ovo cru e aprendem que para vencer na vida basta querer, ralar, engolir... e quem não tem nem o ovo?
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enquanto isso o menino me pede uns trocados para a cola...
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hora de dizer sim ou não?
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enquanto isso rodam-se as cadeiras dos Ps... aceita-se a melhor oferta... o que quer dizer o P?
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investiga-se o investigado que para fugir à investigação põe-se a investigar...
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o novo Bolívar me diz que a melhor defesa é o ataque...
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minha cidade descobre uma nova arquitetura para combater a pobreza... constrói rampas anti-mendigo...
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um senador embotocado, cabelo tingido, ajeita o beicinho e me manda um beijinho...
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enquanto isso, ouço: imagina se todo mundo resolve fazer greve de fome nesse país?
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e me obriga a imaginar também: imagina se todos os que já fazem greve de fome resolvem comer?
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enquanto isso, se a sardinha falta, cada um que puxe a água para a sua latinha...
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enquanto isso, um novo francisco, defendendo o velho francisco, no dia do pobre francisco...
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(Dedicado ao Bispo Luiz Flávio, meu frei querido... em oração, esperando que tu sejas ao menos respeitado pelo sr. presidente)
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sábado, outubro 01, 2005

Teresinha, Teresinha, Teresinha!

É quase orar com o olhar
O coração se acalma
Traz consolo para alma
Ver Teresinha no altar
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É quase céu de doçura
Esta forma de oração
Na foto, a devoção
Teresinha é só ternura
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É quase todo o carinho
E Jesus sabe que é hora
Faz com que eu encontre agora
Teresinha em meu caminho
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Santa Teresinha, rogai por nós!
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1º de outubro - dia de Santa Teresinha do Menino Jesus
Deixo aqui um de seus pensamentos:
"Para mim a oração é um simples impulso do coração, um simples olhar que se lança para o céu".
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Quem quiser ver fotos da santa das rosas, clique aqui:
http://images.google.com.br/images?q=santa+teresinha&hl=pt-BR&btnG=Pesquisar+imagens.
E quem quiser saber mais sobre ela:
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