quarta-feira, outubro 12, 2005

NO DIA DAS CRIANÇAS

HISTÓRIAS DO VELHO LENHADOR.-- Está na hora. Preciso dormir. É seu turno.
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Desde há muito era acordado pela voz estridente da Coruja. Antes que o dia clareasse ela já estava batendo à janela.
Levantava-se, preparava o café, enquanto seu fiel escudeiro ia ver como estava o tempo lá fora.
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-- Hoje chove ou hoje faz sol... sempre acertava. Êta Cãozinho sensível! Perdigueiro dos bons.
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No embornal, apenas uma côdea de pão e a garrafa térmica. Não levava machado nem serra, pois era um lenhador diferente da maioria. Apenas recolhia os galhos que as árvores deixavam pelo chão.
À porta, os pássaros já o esperavam e lá ia o grupo proseando alegremente em direção à floresta enquanto o sol nascia.
Sempre o primeiro a falar, lá vem o novidadeiro do Bem-te-vi.
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-- Sabe que durante a noite nasceu o nenê da Girafa?
-- E foi tudo bem?
-- Sim ele até já está brincando pela clareira.
-- Eu é que não dormi nada, disse o Pica-pau.
Uma gargalhada geral.
-- E por que não dormiu?
-- O Esquilo, aquele que mora no andar de baixo, roncou a noite inteira. Um ronco tão forte que fazia tremer toda a árvore. Até parecia terremoto.
Riram muito, pois diariamente ouviam a mesma reclamação.
.A cabana era a última da aldeia antes da entrada da floresta. Rapidamente lá estavam e o velho lenhador ia dando os bons dias aos amigos que encontrava. Fazia a inspeção costumeira, no que era acompanhado pelo Grupo de Defesa da Floresta. Visitava doentes, resolvia alguns probleminhas. Hoje iria visitar o bebê girafa.
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Sim, havia naquelas bandas uma ONG criada para resolver os problemas internos da comunidade, suprir necessidades, principalmente para impedir a entrada das malditas motos-serra. O Carvalho, morador mais antigo, na verdade criador daquela floresta, era o presidente. Profundo conhecedor das demandas da mata, um sábio, sempre ouvido por todos. O vice era o Leão, encarregado de negociar com os madeireiros que porventura ousassem por ali aparecer. Vinham derrubar árvores para depois vendê-las. Punham em risco a sobrevivência do lugar. Mas quando o Leão aparecia, corriam. E quem gostaria de ficar cara a cara com ele numa negociação? O primeiro secretário era o Elefante que tinha como tarefa principal organizar o transporte da água do rio em caso de incêndio. O fogo, muitas vezes criminoso, apavorava a comunidade. O velho lenhador, além de presidente de honra, era presidente do conselho e intérprete. Era o único humano com quem os animais e as plantas conversavam. Único humano a quem confiaram o segredo de seus idiomas. Tesoureiro não tinha lá. Não havia precisão, uma vez que tudo se resolvia através de trocas. Principalmente trocas de afetos.
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As árvores mais altas, os insetos e os pássaros faziam a vigia. Conseguiam detectar qualquer comboio que se aproximasse ou qualquer início de incêndio. E sempre que o perigo fosse iminente todos eram convocados pelas Maritacas, e passavam a formar um enorme mutirão de salvamento quer apagando o fogo quer impedindo que gente malvada, interessada em destruir a floresta, pudesse ali entrar.
Viviam felizes, em harmonia. Cuidavam-se uns dos outros e do lar que era de todos. E davam exemplo para o mundo.
Tanto que o velho lenhador já está arrumando as malas. Pela primeira vez sairá de sua aldeia, de sua floresta. Vai viajar para a Europa, imaginem, acabou de ganhar o Prêmio Nobel da Paz.
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As Histórias do Velho Lenhador sempre as dedico aos netos e hoje não poderia ser diferente, meus” bunitinhos”... rs.
Expandindo a dedicatória, ela vai também para a Vida, para as crianças, para os bem jovens e para os nem tão jovens assim, todos os que me aceitam como avó... rs.
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No dia das crianças... beijos, carinho, Galera!
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