segunda-feira, novembro 22, 2010

Súplica

Quantas gerações no Teu olhar
Deixaram marcas da dor humana.
Leva-a para dentro de minh’alma.
Quero aceitá-la.
.
Quanta história na Tua voz,
A nos mostrar a medida da angústia.
Leva-a para dentro de minh’alma.
Quero senti-la.
.
Quanto alcance em Tuas mãos,
A tocar nossa limitada existência.
Leva-a para dentro de minh’alma.
Quero sorvê-la.
.
Não me permitas
Ser indiferente ao Teu olhar, Jesus
Ele carrega o sofrimento.
Ser surda ao som de Tua voz,
Ela desnuda a miséria.
Ficar intimidada ao toque de Tuas mãos,
Elas mostram nosso mortal abandono.
.
Ah, mas e o Teu sorriso, Jesus,
E o Teu coração...
.
Quantos pecadores, no Teu sorriso,
Experimentaram a luz que apaga as culpas.
Quantos desamados no Teu coração,
Sentiram o mel do aconchego terno.

. .
Assim suplico:
Não me permitas ser indiferente a Ti, Jesus.
.

A eternidade, o perdão, o amor,
Leva-os para dentro de minh’alma.
Quero vivê-los.

sexta-feira, outubro 15, 2010

À Santa Teresa D' Ávila


...
...
...
...
...
...
Minha querida,
.
Mais uma vez meu pensamento voa através dos ares de Ávila. Preciso de tua ajuda. Bem sabes o quanto me debato quando a noite escura me envolve.
Vem em meu socorro trazendo contigo a tua coragem santa, uma pitada de tua alegria, a luz de teus ensinamentos. Talvez, até uma pequena porção de tua sofreguidão me seja útil.
Ajuda-me a reacender no coração as labaredas, as mesmas com as quais te entregas ao abraço de Jesus.
Começo a notar que meu olhar anoitece. É urgente. Vem, amada. Rogo que ilumines os meus rumos. Mais do que ninguém, tu conheces o meu íntimo e sabes que o que mais quero é queimar-me na verdade como tu fizeste.
À distância tento seguir teus passos. Teu afeto, sempre perto, luta para me moldar. O que existe entre nós é uma sintonia ancestral. Sabes que te amo. E é tão bom saber que sou amada por ti, pois pelas tuas mãos serei capaz de manter-me firme na fé.
Sinto que estás de chegança. Já posso ouvir tua voz, tua reprimenda afetuosa, Santa Teresa:
.
"Em tempos de tristeza e de inquietação, não abandones nem as tuas obras de oração, nem a penitência a que estás habituada. Antes, intensifica-as. E verás com que prontidão o Senhor te sustentará".
.
Entendi e prometo seguir teu conselho, mestra da genuína oração. Tendo em ti o alento e o lume, sou agora alegria.
Agradecendo tanto cuidado e amor, envio um beijo estalado, daqueles que sobrinha apaixonada pela tia costuma enviar,
....



.....

sábado, agosto 07, 2010

*







.,,,,..............................................................................................
Nós duas no topo da escada olhando a noite e os faróis. Desenhavam círculos concêntricos. Teu assobio perguntando. O da mamãe respondendo. Descias o baldio traçando uma linha reta. Ora paravas escondendo-te nas folhagens, ora seguias o sinal que te era enviado. O trecho pequeno levava, no meu pouco entender, uma eternidade para ser vencido. Não sabia ao certo a razão de tanta agonia. Só me agoniava junto e me esforçava por aprender o assobio em código. Quando os carros negros desistiam da marcha, abraçava-te aliviada.
.
Muito tempo depois da tua partida pude entender o sentido destas cenas. Elas se repetiriam com outros atores, outros cenários, embora tom e tensão fossem os mesmos.
.
Sempre revisito lembranças em busca de força para insistir na tua herança. Por onde andariam teu sopro radiofônico, tua remington incansável, teus varais de fotografias? Retratos de um desejo: o da construção de um país mais justo e humano, hoje esquecidos no fundo de alguma gaveta.
.
Se as respostas não as encontro, sigo com tua imagem e, por mais paradoxal que pareça, dada a saudade que ainda tenho de ti, chego até a me alegrar... por não precisares ver o que foi feito dos teus sonhos. Partidos repartidos, hoje projetam sombras, arremedos, apenas, de uma utopia.
.
Meu pai, ausência presente, minha referência, memória do amor que não quero que se apague. E não se apagará.
.

sábado, julho 31, 2010

Um dia...

Minha doce passageira,
posso te levar por caminhos
trilhos de ferro dormentes,
por asfaltos ondulantes,
pelas trilhas poeirentas, mares
montanhas, silêncios
.
Serei até capaz
de inteira me abrir alada
carregar-te em volteios
- és tão leve -
sobre o mundo sem alardes
meio a fogos e luzes
.
Minha doce, a ti suplico
podes a mim responder
- és perene passageira -
preciso apenas saber
aonde pretendes chegar
e logo de partida estaremos
.
Seja lá como for
chegaremos.

segunda-feira, junho 28, 2010

ODE A UM ARMÁRIO

ODE A UM ARMÁRIO

Surpresa assim de repente
Nem sei de onde ele veio
Chegou-me como um presente
Há de se julgar pelo estilo
Que tenha vindo do passado
Forte, imponente, garboso
Exibindo graça ao brilhar
À espera, no meio da sala
Parece que está a chamar
.
Com respeito me aproximo
Qual criança curiosa
Suavemente o toco,
Acarinho, deslizo a mão
Respiro o perfume do cedro
Sinto a pujança do tempo
Renovo ancestrais compromissos
.
Conto e reconto as gavetas
O que posso ali guardar
Vai logo se definindo
Na mais baixa devo encerrar
A ausência de meu pai
A infância tão ferida
A adolescência perdida
Tranco-a p'ra não mais olhar
.
Logo acima arquivo os fracassos
Sempre preciso revê-los
Pois servem de referência
Indicam os meus novos passos
Evitam que eu ande a esmo
Levando avante o sofrer
.
Agora, a gaveta dos sonhos
Embaralhados, alegres
Fazem grande alvoroço
Vivem inesgotável festejo
Da arrumação desisto
Fecho-a com dificuldade
Permito que fiquem para fora
Pontas do que mais almejo
Pontes p'ra felicidade
.
São quatro as pequeninas
Que vêm logo a seguir
Em cada uma encaixar
Decepções, injustiças,
Desafetos e o receio
De a alguém mais ferir
.
A última tão alta está
E sendo um pouco emperrada
Impede olhares de esguelha
Lá vou acomodar meus segredos
As fantasias mais loucas
As paixões sanguíneas, vermelhas
As dúvidas, que não são poucas
Os amores inconfessos
Os pecados, remorsos e medos
As máscaras dissimuladas
.
Quase pronto o meu armário
Mas falta-lhe um quê de beleza
Algo de majestade e firmeza
Que o transforme em relicário
Encontro um belo xaxim de hera
Em ramagem esparramada
Na cobertura a ajeito
.
Avalio a doce quimera
Ainda assim pobre de luz
Pouso a mão em meu peito
Tateio a medalha encontrada
Descubro o que me faz desolada
Não há um afeto inteiro
Falta à estante calor
.
Trago a imagem de Jesus
Concluo a lida aliviada
Ele com o coração à mostra
Instala-se feito um posseiro
Em terno arremate de amor

domingo, junho 06, 2010

DESABAFO

DESABAFO
.
Acompanho pegadas em círculos,
Sigo a dança dos ventos,
Embalo-me em teus sussurros
Em vão.
.

Por que vens ao meu encalço
Se deixas somente um olhar
E te vais?
É pouco!
.
Por onde andas,
Em que cantos te escondes?
Não me escutas ou te divertes
Se nem aos meus gritos respondes.

.
Charadas na amargura,
Enigmas no contentamento.
Dá-me ao menos uma pista
Para que eu possa entender
O que tudo quer dizer.

.
Reconheço...
Entrego os pontos.
Não consigo decifrar teus
sinais.
.

....................................(e estou tão cansada!)

.


*Publicado anteriormente em março/2006*
.