sexta-feira, junho 30, 2006

Um dia...

Minha doce passageira
Posso te levar por caminhos
trilhos de ferro dormentes
por asfaltos ondulantes
pelas trilhas poeirentas, mares
montanhas, silêncios
.
Serei até capaz
de inteira me abrir alada
carregar-te em volteios
- és tão leve -
sobre o mundo sem alardes
ou ainda conduzir-te
em vibrante revoada
meio a fogos e luzes
.
Minha doce, a ti suplico
podes a mim responder
- és perene passageira -
preciso apenas saber
aonde pretendes chegar
e logo de partida estaremos
.
Seja lá como for
chegaremos

.
(dedicado a JA)
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sexta-feira, junho 23, 2006

O tempo e o verbo

O tempo brinca
O verbo apronta
O tempo brilha
O verbo canta
O tempo trilha
O verbo aponta
O tempo corre
O verbo indica
.
O tempo afasta
O verbo traz
O tempo lasca
O verbo faz
.
O tempo solta
O verbo leva
O tempo volta
O verbo ama
O tempo voa
O verbo atinge
O verbo acerta
.
O tempo aperta
O verbo chora
O tempo prende
O tempo prensa
O verbo ora
O verbo tenta
O tempo enfrenta
O tempo sente
O verbo mente
O tempo acata

O tempo corre
O tempo morre
O verbo mata
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(dedicado ao Osmar)
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... //...
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Estou novamente sofrendo de internetite.
Uma inflamação que atinge cabos, rebimbocas, conexões.
O remédio? Jogar fora o micro junto com o expert espertinho que aparece desaparecendo.
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Aos caros amigos... beijos, carinho.
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sexta-feira, junho 16, 2006

ENTRE ASPAS

Hoje não são meus os versos que aqui gravo.
Ganhei-os da poeta e autora de livros infantis,

querida amiga dos bancos escolares,

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Lucila C. Gaboardi
:
dar resposta a uma amiga
que das letras tira sentidos
que encantam e fascinam
tão transcendentes que são
dar resposta a uma amiga
que em meu coração se abriga
em lugar especial e escolhido
pelo sentimento maior

amor amigo
nasceu nos sonhos e devaneios
que juntas vivemos
na doce e irreverente juventude...
nasceu nos bancos da escola
que de tão amada
nos manteve a união

dar resposta a uma amiga
que tão lindamente
preenche o branco do espaço
de etéreas palavras
que resposta dar à amiga
se as minhas (palavras) se escondem
ante a beleza das dela


que resposta dar à amiga
que de mim diz ser preciosa
muito mais precioso sei
ser o amor
que me tem

.
Lucila, você me emocionou profundamente. Seu poema é lindo. E um arrepio me percorre a cada vez que o releeio. Penso nas forças que nos unem. Revivo a admiração que sempre tive e tenho por você. Tento entender a complexidade dos sentimentos. Preencho os grandes silêncios que nos envolvem. Enxergo a sintonia em que caminhamos. Sei que você está aí. Você sabe que estou aqui. E me encanto porque no fundo é tudo tão simples. É amizade. Sem intromissões, sem cobranças. É liberdade. É apenas e tão somente afeto. Precioso e verdadeiro afeto. E quem nele vive de nada mais precisa. Simplesmente, em agradecimento, vivê-lo.
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terça-feira, junho 13, 2006

Testando o raciocínio num país sem lógica

I
se o ronaldo é gordo
se o presidente é sóbrio
a
imprensa mente?
.
II
se o presidente bebe
se a
imprensa
mente
o ronaldo é magro?
.
III
se a imprensa bebe
se o ronaldo é sóbrio
o presidente... é gordo?
.
alguém me ajuda!
.
(dedicado ao Stanislaw Ponte Preta)
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... //...
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Horas depois...
.
Viva o Kaká!
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Que não é gordo... nem bebe.
Joga de verdade.
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...

segunda-feira, junho 12, 2006

SOBRE O AMOR

Falar de amor dá arrepio
O assunto é desafio
É ter a alma por um fio
Sentir-se sempre no cio
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É maquiar cara de cínica
Ouvir Simone e ser tímida
Olhar-se no espelho, mínima
.
Fingir que não está nem aí
Tendo aos saltos o coração
Responder "nem te ouvi"
Quando olhada com paixão
.
Mas se o doce olhar vai embora
Cansado de tanta espera
Madalena desespera
Chora, esperneia, tece a hora
Faz melodrama barato
Corre atrás de seu guerreiro
E se o amor for verdadeiro
Logo no primeiro ato
Tem-no para si, por inteiro
.
Lá vai ela segura
De novo desdenha o amado
Esquece toda a ternura
.
Sem procurar entender
Ele sai logo à procura
De quem não o faça magoado
Desse mal não quer sofrer
.
São jogos bem engraçados
Dos velhos tempos de Adão
Os dois andam separados
E se ao invés de apavorados
Assumem-se enamorados
Provocam do amor a explosão
.
Hoje a experiência festejo
Mais velha me regozijo
Quando m’ olham com desejo
Se for pra perder o ensejo
Perco bem antes o juízo.
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... //...
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Republicação... e continuo dedicando aos que, por amarem o amor, cultivam possibilidades.
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Minhas referências: Mark Twain, Ivan Lins e Joyce.

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quarta-feira, junho 07, 2006

lembranças de uma noite de maio

e muito havia de veludo
no hiato que tua voz ditou
desenhadas sobre o tecido
rosas te faziam alumbrado
as cores, a luz, o pacto

..
já não precisavas da fala
sorrias, apenas sorrias

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(dedicadas ao amor)
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segunda-feira, junho 05, 2006

na manhã de segunda-feira

colhi imagens antigas
que falassem de ti
muitas delas rebuscadas
indecifráveis
algumas até bonitas
outras assim, assim
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letras soltas ao espaço
pegadas deixadas
com intencional acaso
fachos de luz se entranhando em mim
veludos me deitando em chamas
jeito alado a me buscar serena
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tuas pernas
tuas mãos
teus olhos
tua boca
.
seriam partes
de um amor
retalhado
ou a incapacidade de dizê-lo
inteiro
.
hoje nada é para mim espelho
as metáforas não têm sentido
meu viver que é completo
exige o simples

o direto que perdure
o mais antigo e pleno verso
único fim de meu canto
o melódico
eu te amo
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quinta-feira, junho 01, 2006

O PÁSSARO

Tu que preso à parede estás
Sabes que inoportuno és
Ao continuamente
Lembrar-me as horas?
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Insensível carcereiro
De tua gaiola espalhas
Sobre mim os gradis de um presídio
Enquanto continuas atado
Às tuas próprias correntes
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Oscilando anuncias
Que até mesmo o porvir
É tempo que chega perdido
.
No teu insano vaivém
Nem percebes o mote
Do Lullaby of Birdland
Girando na minha vitrola
Surdo por teu próprio grito
Por mais que eu alterne o canto
Com terceiras intenções
Cumpres o teu irritante moto
.
Sem sucesso arrisco
Arrancar-te de tua prisão
Arisco, não te abalas, não aceitas
O codinome beija-flor
Que tento a ti dedicar
.
Não vês, impassível ave
De nome cuco sem rima
No meu presente a oferta
Um rumo
A liberdade para o teu vôo
Alforria para meu cantar
.
(Dedicado a Foster e Shearing e a Cazuza, Reinaldo Arias e Ezequiel Neves)

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