terça-feira, dezembro 28, 2004

SAUDADE DO FUTURO

Querida Adélia,

No mês de abril, eu escrevi para você no antigo Saudade do Futuro. Vou publicar aqui, como se fosse presente, o post daquela época. Lá vai:

Quinta-feira , 22 de Abril de 2004

Oi, meu amor! Hoje é com você que eu quero falar... Difícil será manter sua identidade inviolada, mas vamos lá...

Comecei certa vez um texto com as expressões Ser eu, ser "mim", ser vocês... Não continuei o texto mas relembrei hoje que o que eu queria era escrever para você ou, quem sabe, para nós duas. Fiquei em dívida com você mesmo sem lhe contar o que havia idealizado... As palavras ficam me cobrando... De tempos em tempos, elas voltam em minha mente soprando o desejo de virarem poesia...
Levantei da cama, acordei os meninos e fui para cozinha. Não queria repetir mas como outro dia uma música estava lá... A mesma do outro dia. Rapidamente mudei minha estação e ouvi uma que não ouvia há muito, muito tempo mesmo: Como nossos pais na voz da Elis. Logo cedo, uma música com um baixo tão marcado? Sim, fiquei ensaiando o baixo enquanto preparava o café. TUM-TUMTUM-TUMTUM-TUMTUMTUM-TUM-TUMTUM-TUMTUM-TUMTUM... Maluquice minha marcar o tempo assim mas não estava estudando música, estava estudando o pulsar. E falar do pulsar é uma responsabilidade muito grande para quem já habitou o seu ser. Revivo todas estas lembranças no momento que estou investigando a minha História de Vida. Avalio nosso contexto, nossas vidas entrelaçadas, a casa iluminada sempre pela mola mestra da Educação. Vejo o orgulho que é me parecer com você, de ser você e construir o meu próprio ser. Eu me olho nesse espelho e ao mesmo tempo que me afirmo, eu me nego, acerto, erro, odeio e amo... E como amo!!! Tudo que hoje vivi foi uma experiência que revelou, desvelou todo o sagrado que habita nossa casa, o meu palco. Vi que realmente ele existe, o palco sagrado. Pude ver bem o nosso movimento, andamento... Compreendi o berço e o útero de onde tudo começou. E em cada fala, sentimentos e sentidos expressados naquele espaço sagrado iluminavam aquela Sombra até outro dia por mim não entendida. Percebi que a Sombra transitou por ali também. Emocionada, por mim e por você, por nós duas, senti que de alguma forma também sou parte daquela casa. Muitas de suas lições de aprendiz de professora foram abençoadas naqueles espaços. Depois da benção você nos oferecia, ofertava suas descoberta na mesa do almoço, ou no café da noite, nos alimentando de tudo o que você apreendia e se apropriava. Partilhava sempre conosco. Que pão delicioso!!!

Ser eu, ser "mim", ser vocês... Mãe... É poder ter sua crítica e seu útero. É ter o seu ser sangrando para dar-me à luz. É fazer a minha lição de casa, apropriar-me de tudo isso, deixar de ser eu mesma, deixar de ser você e ouvir uma única vós:

- Somos nós!!!

BEIJÃO pequenininho,

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Entramos juntas neste oceano-deserto dos blogs... eu querendo escrever... você silente leitora. Apendemos muito nesses meses. Aprendi com sua companhia maravilhosa!!! Continuo, hoje, aprendendo com a forma como você navega entre os amigos, sempre carregando sua generosidade... Eu, bobinha, assisto... aprendendo, aprendendo, apreendendo...

Bom, agora saio eu de cena... deixo este blog para você de fato começar... o nome? pode mudar... os textos? também... Não consegui formatar tudo como eu queria... depois posso te ajudar... quer? Só queria mesmo derramar todo o meu carinho infinito.

Beijinho,

menina poesia (filha do anjo Adélia Theresa Campos)


sábado, dezembro 25, 2004

ESTRELA DE BELÉM

Hoje as estrelas só choram
Tentam falar com a gente
Quem as quer escutar?
Só pára para ouvir estrela
Aquele que aprendeu a amar
Mas o céu é persistente
E nos surpreende também
Todo ano, insistente
Em nossa alma faz brilhar
A Estrela de Belém
Ela vem e nos aquece
Mostra-nos com toda luz
Que o Pai jamais esquece
De nos ensinar que o amor
Nasce com o Menino Jesus
Feliz Natal!

sexta-feira, dezembro 24, 2004

AINDA O GUARDAR

Pequenos recortes da realidade
Pequenos instantes
A poesia guarda e traduz.
Os excessivamente profundos
De inexplicável existência
Por não caberem no verso
Abrigam-se na memória.
Transformam-se em pulso.
(Origináriamente dedicado a Antônio Cícero e a Leonardo Boff)
(Em dezembro de 2004, amorosamente dedicado à Loba e ao Linaldo)

quinta-feira, dezembro 23, 2004

AMOR

o Amor
maior do que tudo
às vezes maior
do que posso suportar

o Amor
apesar de tudo
irresistível busca
mesmo que eu queira
é-me impossível recuar

terça-feira, dezembro 21, 2004

OS MENINOS ANDARILHOS

Pobres meninos poetas
Cruzam-se pelos caminhos
Conhecem bem seus destinos
Em qualquer lugar forasteiros
Da palavra, prisioneiros

São eles os gatos famintos
À espreita das sobras do verbo
À espera do lume vela do verso

Pobres poetas meninos
Andarilhos da poesia
Do concreto ao abstrato
Do imaginário ao real
Precisam de alimento e luz
Para encetar travessia.