sábado, abril 30, 2005

EX - LIBRIS

É uma corrente ou melhor, uma enquete que está circulando pelos blogs. Sem entrar muito na intimidade dos blogueiros, acaba por revelar as fontes de inspiração dos mesmos.
Tenho acompanhado os depoimentos de companheiros e me deliciado ao encontrar afinidades, reencontrar livros que andavam perdidos na minha memória, além de receber ótimas indicações de leitura.
Agradeço à Loba, ao Nel Meirelles e à Borboleta Azul, por terem me colocado nesta interessante roda de leitura.
À entrevista, então.

Não podendo sair do Fahrenheid 451, que livro quererias ser?
Logo que fui convidada a participar desta enquete lembrei-me de três livros. Descartei um deles e não consegui escolher só um entre os dois restantes. Ora quero ser Manuscritos de Felipa de Adélia Prado, ora o Cântico dos cânticos.

Já alguma vez ficaste apanhadinho(a) por algum personagem de ficção?
Muitas vezes. As princesas dos contos de fadas, identifiquei-me com todas. Depois passei a ser a Emília de Monteiro Lobato. O que mais gostava era de me imaginar, tal qual Emília, uma “dadeira de idéias”. Acho que até hoje gosto. Mais tarde, já adulta, tinha por hábito ler antes de dormir. Impressionante é que nos sonhos dava continuidade à história que estava lendo. Na verdade, nunca acertei o desenrolar do enredo, pois meu mundo onírico, a partir do livro, criava outras histórias. Hoje dei de me identificar ou me apaixonar por autores e não mais por personagens.

Qual foi o último livro que compraste?
Sou compradora compulsiva. Então relaciono os do meu último pacote:
O Ser Fragmentado – da cisão à integração de Anselm Grün.
São José, a personificação do Pai de Leonardo Boff.
Poesia liberdade de Murilo Mendes.
Aqui tem coisa
de Patativa do Assaré.
Altares Paulistas - Resgate de um Barroco, publicação do Museu de Arte Sacra de SP.

Qual o último livro que leste?
O Ser Fragmentado – da cisão à integração
de Anselm Grün, convite ao mergulho em nossas próprias profundezas.

Que livros estás a ler?
Leio tantos ao mesmo tempo que até fico um pouco envergonhada ao responder, mas sinceridade...
São José, a personificação do Pai - a reflexão de Leonardo Boff , baseada em vasta bibliografia sobre São José, atualiza o significado deste santo para os dias atuais.
Poesia Liberdade traz o prazer na insubordinação elegante e lírica de Murilo Mendes.
Funções da Linguagem
de Samira Chalhub, para perceber, um pouco, as possibilidades tantas do uso do código poético.
Mulheres de palavra – Adélia Prado, Hannah Arendt, Cecília Meirelles, Simone Weil, Teresa de Ávila, coletânea de reflexões sobre a obra destas mulheres, organizada por Maria Clara Bingemer e Eliana Yunes
Murilo, Cecília e Drummond – 100 anos com Deus na poesia brasileira
, transcrição de um seminário realizado pelos departamentos de Letras e de Teologia da PUC-Rio sobre a espiritualidade presente na obra dos três poetas, organizada por Eliana Yunes e Maria Clara Bingemer.
Corpo – Território do Sagrado
de Evaristo Eduardo de Miranda, análise do simbolismo do corpo a partir da perspectiva judaico-cristã.

Dois de cabeceira há vários meses:
O Senhor é meu Pastor de Leonardo Boff.
Os melhores poemas de Amor da sabedoria religiosa de todos os tempos
– seleção, apresentação e tradução de José Jorge de Carvalho.


Que cinco (5) livros levarias para uma ilha deserta?
Com tamanha limitação:
Poesia Reunida – Adélia Prado (Siciliano)
Escritos de Santa Teresa de Ávila (Edições Carmelitanas e Edições Loyola)
A Bíblia Sagrada, fonte de inspiração diária.
O imprescindível Huaiss.
E já que não posso levar nenhum CD, Chico Buarque do Brasil organizado por Rinaldo de Fernandes.
Bem escondidinho, o meu caderno, um estojo com lápis, borracha e apontador.

A quem vais passar este testemunho e por quê?
Bia
- letracriada.weblogger.terra.com.br
Júlio Castro - oinventario.blogspot.com
Kathy - atravesdemim.zip.net
Porque gostaria de saber de onde os três tiram inspiração para tão instigantes escritas.

Bia, Júlio e Kathy, meus queridos, é só copiar as perguntinhas que aí estão, respondê-las e matar a nossa curiosidade.
Beijos, carinho.

sábado, abril 23, 2005

Y UNIRÉ LAS PUNTAS DE UN MISMO LAZO

Enquanto puxas a fita
Meu coração se queda
A esperar por sinais
Cada gesto teu passo leve
Laço solto na busca
Curiosa e atenta procura

A caixa aberta...
Ainda resta
A seda em tuas mãos
Levantas em suspense a cabeça
Tentando adivinhar

Pouco a pouco, surpresa
Ilumina-se o mistério
Sinto-me até esquecida
Vendo-te fitar o passado
Expressão enternecida
Refletindo-se em dourados
Reflexos de uma paixão

Então buscas meu olhar
E soa com tal zelo o beijo
Que ofereces ao presente...

É como se beijasses a vida
Revelada em coração
Apanhas de volta a fita
Em teus olhos um brilho, um riso
Em meu lapso um riso, alívio...

Unem-se para além do abraço
Dois pulsares, uma alma...
Pontas de um mesmo laço.

______________________
Inspirado em Yo vengo ofrecer mi corazón de Fito Paez, de quem venho roubando as pontas de um mesmo laço.
Dedicado à Mercedes Sosa.
.

quarta-feira, abril 20, 2005

IMPERATIVO

Abre-te às feridas d’alma,
Dá-me tua aspiração...
Revelar-te-ei liberdade.

Abre-te à fantasia,
Dá-me teus desejos...
Desvendar-te-ei festejos.

No improvável, no delírio,
No limite ou nitidez,
Na sede...
Recosta-te à fonte.

No pecado ou santidade,
No anseio ou na aridez,
No cansaço...
Recompõe-te tenda.


Abre-te às fendas d’alma.
Devolve-me a liberdade... (só então)
Desvelar-me-ei amor.

.
(Inspirado por Teresa de Ávila e dedicado a um amigo querido)
.

domingo, abril 17, 2005

A PEREGRINA

A caminhada se faz sentir na dormência das pernas e o irrealizável, na demência da alma. E será sempre assim nos arrastados dias de areias quentes. A claridade é tal que lhe chega a turvar a vista. As trilhas se abrem para em seguida se desfazerem ao sabor dos ventos, alterando-se a cada instante. A aridez mostra que a liberdade do caminho não basta, se não se tem para onde ir. Sente-se prisioneira de seu próprio labirinto. Quisera de volta o aconchego da tenda onde o frio e a escuridão da noite não a alcançam. De onde, mesmo sem ver as estrelas, pode divisar o horizonte.
Descobre-se seguindo os mesmos rastros deixados por dias e dias de caminhada. Frestas se abrem repentinamente, obrigando-a a estancar. Olha ao redor. A paisagem monótona repete-se à direita, à esquerda, à frente, atrás. Ao alcance da vista, nada que tenha vida. Sons, somente, os do vento insuportável, que sem piedade fere a pele já tão curtida pelo sol. Senta-se.
O pensamento vaga por tempos ingênuos, quando o coração era contente. Olha para o próprio peito, não o vê. Onde o terá esquecido? Indaga pelos amores, se é que existiram. Mas, se não eram reais, por que se foi desfazendo em cada um deles?
É tarde e da secura em que se encontra, nem lágrimas consegue tirar. Põe-se em pé. Talvez encontre algo para beber. Ao longe, a fosforescência, já tão conhecida, da miragem, insistentemente, produzida pelo desejo. Mesmo na desesperança, segue.
O fim da tarde encontra-a trôpega, sedenta, confusa. Parece ver, logo ali uma construção de pedras. Arrasta-se. Está muito perto. Mais um esforço e os sentidos se perdem.
Dá-me de beber, ouve, ainda entorpecida. Surpreende-se, pois não é sua voz a pedir. Contra o sol tem dificuldade em focalizar o contorno a sua frente. Ouve o seu, já quase esquecido, nome sussurrado por aquela voz tão terna que insiste: dá-me de beber. De um salto, levanta-se, apruma-se. Tenta dizer que há tempos vaga, sem sucesso, por aqueles sítios em busca de água, quando ele lhe aponta uma fonte. Majestosa, feita de pedras, ornada pelo musgo que o tempo ali fez brotar, esparramando água em abundância. Surpresa, não consegue se aproximar. É preciso que ele a leve pela mão. Enquanto caminham seus olhares se cruzam rapidamente. Quanto mel! Incapaz de suportar as promessas ali escondidas, fixa-se à fonte. Vasculha os seus pertences e encontrando uma caneca oferece-a ao homem que a recusa dizendo: minha sede é a tua sede. Vem. Sacia-a! É quase uma senha. Farta-se, esparrama-se, encharca-se, lava-se. Reencontra a alegria. As vestes limpas readquirem as cores originais. No marrom da saia, sobressai o branco do avental. Sente-se linda. Acomoda-se ao sol, para que seus longos cabelos sequem e voltem a brilhar. Só então, cria coragem e olha de frente aquele homem. Esforça-se por retribuir toda a aceitação refletida naquele sorriso. A um gesto dele, deita a cabeça em seu colo deleitando-se em ouvir o próprio nome sendo repetido, junto às doces certezas do verdadeiro afeto. Embalada pela suave voz do desconhecido, adormece e sonha. Uma deslumbrante carruagem de fogo chega, vinda dos céus. Embarcam. Aninham-se, e lá se vão. “Duas pontas de um mesmo laço”, finalmente juntas.
(Dedicado à Maria do Egito)
.

terça-feira, abril 12, 2005

INÉRCIA

Entre duros ângulos
Cruzo os dedos.
Tento vôo de andorinha.
Nem se move a parede,
Nem a sombra que nela pousa.

Entro em giro desertor.
Cruzo ombros.
Lanço um olhar de soslaio.
Nem se move a minha alma,
Nem a ave que nela aterra.

Esvazio a minha mente,
Cruzo em prece as mãos,
Pousando-as sobre o peito.
Nem se move este silêncio,
Nem a chaga que ao coração assombra...

(Continuo dedicando a Anselm Grün)
.

terça-feira, abril 05, 2005

SEM EIRA NEM BEIRA

revirei minha bolsa
olhei dentro de armários
vasculhei dicionários
estantes, memórias, instantes
andarilha da alma
me embrenhei por escuros
abecedários vazios
desisti de meu verso invertido
vocabulário perdido

sem eira nem beira
encontrei-me despida
catadora do olhar
em reversa palavra
emprenhei-me da luz
serena a esperar
no prazo o ato
parto de mim
finalmente a dor
há de se cumprir poesia

(Dedicado a Anselm Grün)
>

sábado, abril 02, 2005

TOQUE NA DESPEDIDA

Vôo que não saiu do solo
Mãos que não se tocaram

Meus olhos intactos
Que nunca viram os teus
Fixam a janela vazia
Só tua suave luz
Revela a graça
Da confiante entrega
À Divina Misericórdia

Voa nos cânticos
Das mãos que agora se entrelaçam
Leva junto o meu olhar
Serenado pelos sinais
Que a nós ofereceste

_________________________________

Naquele exato instante

Via-te entre brancos e azuis

Abraçava-te

E já eras recebido

Pela misericórdia do Pai

Sem saber, despedia-me

Em meus braços, as nuvens, lembrança

Em teu sorriso, a esperança, coragem

Chegaste

Prossigo...

______________________________

(Dedicado a João Paulo II)

>


.