sábado, fevereiro 25, 2006

imortal

segue o teu destino de filha
volta à casa do Amor
lá dois braços te esperam
te abraçarão com carinho
e será tanto o aconchego
e será tanta a alegria
que sentirás como se nunca tivesses saído
conosco ficará
o que nos deixaste
mais do que a vida
vindo do Pai
ficará em nós
o amor nela vivido
e que em nós derramaste
este não se apaga
não morre
jamais
.
(a ti, minha querida e ao Pai que te acolhe)
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quarta-feira, fevereiro 22, 2006

TRAVATROVA

GORDA A VIDA
GORDA A POESIA
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TROVA TRINADO TRINANTE TRINADOR
.
COLA ESSE PERFUME AO PEITO
. E
GIRE DANCE
DANCE GIRE
GIRE LAMBE
DANCE
.
TRINA TROVA
SIBILA ESSE PASSEIO
SUBA
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sexta-feira, fevereiro 17, 2006

surpreendente


...

















..
....
19 de outubro de 2005
dias depois de ter escrito o texto
Anatomia de um Sonho
sou encontrada por esta foto
d' O Estado de São Paulo

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os arcos da catedral vieram até mim
como se atendessem a um chamado
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desde então emolduram
minha surpresa, meus devaneios,
meu espanto...
...
Agradeço a:


...

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

ANATOMIA DE UM SONHO

I
A FOTO
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Sabíamos para onde nos levava aquele trem. Únicos sons, o da locomotiva e o do choro do menino em febre. Dividi com ele a pequena coberta que agasalhava as minhas pernas. A mãe levantou-se por uns instantes, remexeu seus pertences. Eu a via de costas. Parecia que recortava alguma coisa. Com dificuldade voltou para perto de mim e com um olhar de agradecimento, entregou-me a metade de uma foto. Magnífica. O ângulo inusitado fez com que eu demorasse uns instantes para entendê-la. Múltiplos arcos góticos. De cima para baixo. Surpreendentemente não me vi sob e sim, fazendo parte deles. De dentro para fora. Do escuro para a claridade da praça onde um velho e uma criança, sentados num banco, pareciam esperar. Estáticos.
O ar já se tornava escasso no vagão superlotado. Começava-se a ouvir um ou outro gemido, um ou outro lamento.
Sabíamos para onde estávamos indo. E eu tentando decifrar aquela foto.
A velocidade diminuindo, diminuindo...
As portas foram abertas com violência. Um vento gelado chegou até nós.
Agarrei-me à visão da foto e segui a manada silenciosa. Estava dentro do instantâneo. Era o instantâneo. Por antecipação, transformara-me na abóbada nele retratada.
Lá fora, a estática claridade da praça parecia esperar. Sabíamos.
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II
A MULHER
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Ah, como gostaria de ter a posse da minha voz naquele instante. A ti perguntaria o significado de tão inesperada oferta, pois não conhecias nada sobre mim. Flagrada por uma grande angular, a partir de inusitado ponto de vista, tu me entregavas a catedral de minha cidade. Ela, inteira. A foto, um pedaço. O que terias reservado ao cortá-la, o que pretendeste guardar, não saberei. Deixaste comigo os arcos de visão perturbadora e em primeiro plano um sorriso. Entregaste-me o sorriso de teu filho. Teu próprio filho. Embora sem uma troca de palavras, nossos olhares se entendiam. Eu sabia que tu sabias para onde estávamos indo. Naquele vagão, talvez só nos duas soubéssemos. E as contradições ali, todas aparentes. Tínhamos um passado e um futuro nos esperando na claridade da praça. Em nossas mãos apenas um pedaço de teu presente que dividias comigo. E eu, parte da abóbada em grande angular, esperando a hora de descer, pois já se ouvia o apito do trem.
O ritmo da locomotiva foi-se arrefecendo até restar apenas um sopro.
Com a brutalidade que lhe era peculiar, aos gritos, a soldadesca abriu as portas.
Do pesado calor ao vento gelado. Do escuro a um flash de luz. Sabíamos para onde estávamos indo, mas o clarão do dia cegou-me durante uns minutos. Mãos muito brutas nos empurravam. Perdi-me de ti. Levaste as respostas. Deixaste-me parte de teu tesouro e a sensação de perplexidade. Acostumando-me à luz caminhei em direção ao banco onde me esperavam o velho e a criança. Estáticos.

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III
OS ARCOS
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Não é possível. Devo ter enlouquecido, pois me flagrei a conversar com arcos. E que arcos! Góticos. Sobrepostos. Majestosos. Formavam a abóbada de uma catedral. Eu incrustada bem ao centro, fazendo parte dela. E perguntando sem parar, precisava reencontrar a mulher e as respostas. Do alto olhava para baixo. Do lusco-fusco via a claridade lá fora. Aninhada tentava desvendar o mistério que a tudo envolvia. O passado e o futuro ainda me esperavam. Estáticos. De repente, pela primeira vez ouvi a voz dela. A mulher. Suave. Falta um vagão ao trem. Soltei o corpo. Ainda que em câmera lenta, agora sim, sabia para onde e para quê estava indo. Para a luz. Para a praça lá fora. O presente que me fora doado pelo afeto da enigmática mulher, este carreguei comigo. Juntos tínhamos muito trabalho pela frente. Instalei-me entre o velho e a criança. A cena adquiriu movimento.

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- Corta!
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(Inspirado n'O Pianista e dedicado à Santa Edith Stein)
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sábado, fevereiro 11, 2006

O POETA E A CONTISTA

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olhar que vira imagem
que vira palavra
que vira olhar
que vira...
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dinâmica excitante
olhares visitantes decifram detalhes
recodificam - poetizam
olhares
vêem-se em minhas imagens
revelam-me
deixam em comentários a poesia que se engasgou em mim
olhares que salvam



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o olhar do poeta Nel Meirelles
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salvar o como
antes que o porquê
o devore.



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o olhar da contista Euza Noronha
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Intoleravelmente devagar ela abriu a caixa. Antes a revolta fora súbita. Mas o cheiro da saudade amainou as cores da raiva. O quarto ganhou tons pastéis. E seus movimentos eram lentos como lento era o movimento da estrela que a guiava.Em perfeita sintonia de dedos e vontades espalhou os papéis pela cama. Nunca eles tinham se tornado uma presença tão viva. Não passavam de sonhos mortos. Era o que ela queria dizer a eles. Mas não havia voz nela. Só mãos que os alisavam e olhos perdidos em outro tempo.Com a mesma lentidão metódica tirou as folhas do fundo da caixa. Silenciosamente mortas. Como se fosse imperioso manter a vida entre as mãos, pegou folhas e flores da jarra. Abraçou-se a elas e deixou que suas lágrimas as fizessem ainda mais viçosas. Depois, com indisfarçável esforço, colocou-as, uma a uma, sobre as letras espalhadas pela cama. Empoeirada e vazia, deixou que o tempo passasse por ela enquanto mergulhava na dor das lembranças.
Até que uma energia impalpável e obstinada irrompeu dentro dela. De imediato abriu a janela e deixou que o vento entrasse. E folhas, flores e cartas misturaram-se pelo chão. Olhou a primeira estrela que brilhava ao longe e chamou pela empregada. Fizera o funeral, era hora do enterro. Desprendera-se finalmente. De letras, de lembranças, de saudade. O olhar que acompanhou a vassoura pelo chão do quarto era de uma vencedora. Renascera como planta forte e viçosa. Audaciosamente viva.


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Estando minha palavra sem salvação, salvo aqui a palavra de dois de meus mais antigos comparsas.
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segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Salvar como...

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Fotos by Lily
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quarta-feira, fevereiro 01, 2006

dos desertos e das esperas

marcar a espera
em tempo presente
requer instrumento
construído à perfeição
onde caibam os desertos
de passado
pouco mais que imperfeito
.
deixem-se escorrer as areias
deitada, rendida em presságio
ampulheta vazia das horas
inventa o futuro
imperativo da voz
.
faz do verbo
o infinito
...
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(Dedicado ao Dagô)
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