domingo, janeiro 25, 2015

DECLARAÇÃO DE AMOR

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Protegida em minha bolha
Não deixo de interrogar
Para mim sei o que és
Não sei o que para ti posso ser
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Trago-te, então para dentro
Na mão do menino esquálido
Pedinte de cola e coca
Acaricio-te sorris e somes
Misturado às gravatas
Aos camelôs em bravatas
Às mulheres que vendem o corpo
Cidadãos sem eira e nem beira
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Consolo-me na consolação
Do silêncio delirante
Horas tantas badaladas
Largadas pelas calçadas
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Protegida por claustro seguro
Abro uma pequena fresta
Deixo entrar a acidez
E penso se está tudo perdido
Tens violência e a aridez
Das ruelas esquecidas
Dos rostos das mães nas favelas
Da fome de alimento e de sonhos
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Tua face mostra as fissuras
Heranças da civilização
Feridas abertas em fosso
Agonia de dor e paixão
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Protegida em meu carro vermelho
Envolta na tua fumaça
Vejo abrir-se uma nesga
Nas hortas das marginais
Nos jovens de uniforme
Saltimbancos da esperança
Nas flores dos canteiros centrais
E em quem dá a elas o aroma
No rico fazer cultural
Na solidariedade latente
Organizada em mutirões
Nas passeatas cívicas
Exigentes de dignidade
Mestres renomeando a vida
.

Atravesso as tuas veias e campos
Sem mais precisar proteção
Perdida em meio às vontades
Vou nas asas dos pardais
Partilhando madrigais
Me levas a te descobrir
Querendo ser como és
A conservar a magia
Nas vilas, sobrados e avessos
Travestidos na riqueza
De teu povo soberano
Guerreiro que puxa o cimento
Sabe que o belo e o bom
Amanhece trabalhando
.
Segue a divina sina
Do santo que te batiza
Bélico pacificador
És martírio, és enlevo
És betoneira incansável
És útero e uma lágrima
És desafio, és afeto
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Abaixo o volume do rádio
Premeditando o porvir
Sempre perdendo o rumo
Sempre me encontrando em teus braços
.
De soslaio as desvairadas
Cãs brancas no retrovisor
Mostram-me de que és capaz
Saberás encontrar tua paz
.
Sorrio para ti meu amor
Lanço um íntimo desejo
Quando minh’ alma partir
Peço aos que bem te traduzem
Enterrem meu coração sem titubeios
Nos trilhos que te conduzem
.
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Dedicado aos homens e mulheres, crianças, adultos e idosos, paulistanos por nascimento ou escolha, todos arquitetos da beleza, tradutores da verdade. Referências que me ensinam a entender e a amar cada vez mais esta cidade.
Dedicado também ao meu carrinho vermelho que me leva pelos caminhos de São Paulo...
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sexta-feira, janeiro 23, 2015

melancolia



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minha pobre cidade rica
és carente, és desvairada,
és sofrida e amargurada
.
és palco de cenas vulgares,
de vaidades baratas,
da insensatez corriqueira
da incapacidade humana de se humanizar
.
minha pobre rica cidade
das tantas pequenas tragédias
também palco de dramas dantescos
cenário macabro

para os sem teto,
sem saúde, sem escola,
sem rumo, sem praça
ou alento
.
minha cidade magoada
em meio a tanta indigência

coragem
.
há os que dependem de ti
há os que muito te amam
e que reúnem a força, a ternura
para em um dia bem perto
te arrancarem da UTI
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