quarta-feira, março 09, 2005

O OLHAR POÉTICO

Alguns pensamentos desconexos...

Se procuro o que é bom e belo tendo-os de antemão definidos, restrinjo a minha busca a um simples olhar no espelho.
Vejo-me, narcísica, a me contemplar e a realimentar minha cegueira.
Moldura apagada, deixada à sombra, é tudo o que está ao meu redor.
É o olhar da ignorância, da incompreensão, do desdém. Nega a existência da vida. Aparta e divide. É capaz de destruir e aniquilar.
Mas toda aventura humana que se traduziu no bem e no belo, partiu do olhar poético de alguém sobre o mundo, sobre o outro, sobre as coisas.
O olhar alfabetizado na sintaxe da poesia concentra-se, também, fora de si mesmo. Observa, apreende. Contempla. Permite-se a abertura dos sentidos, decifrando e aceitando o sentido inerente a tudo.
Sem sentimentalismo, o que torna uma coisa bonita ou feia é o meu olhar sobre ela.
Se é de aceitação, o cosmo, a mim, se revela. Sai das trevas.
Se é de interesse, o outro, a mim, se desvela. É compreendido. Ilumina-se. Ao se iluminar acaba por iluminar-me.
O olhar poético, o da emoção e do sentimento, leva-me ao encontro do outro, trazendo-o para mim. Na aproximação, a descoberta da beleza e da bondade, atributos de todos os seres humanos.
A visão poética é assim, humanizante.
A única capaz de ler "os vestígios de esperança que tornam a vida mais humana".
A única capaz de fazer da vida uma possibilidade concreta, verdadeiramente boa, verdadeiramente bela.
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... e como é bom delirar.
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(Dedicado a todos os blog-amigos, parceiros pelos caminhos dos delírios poéticos.)
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