quinta-feira, janeiro 27, 2005

SOBRE O AMOR

Falar de amor dá arrepio
O assunto é desafio
É ter a alma por um fio
Sentir-se sempre no cio

É maquiar cara de cínica
Ouvir Simone e ser tímida
Olhar-se no espelho, mínima

Fingir que não está nem aí
Tendo aos saltos o coração
Responder "nem te ouvi"
Quando olhada com paixão

Mas se o doce olhar vai embora
Cansado de tanta espera
Madalena desespera
Chora, esperneia, tece a hora
Faz melodrama barato
Corre atrás de seu guerreiro
E se o amor for verdadeiro
Logo no primeiro ato
Tem-no para si, por inteiro

Lá vai ela segura
De novo desdenha o amado
Esquece toda a ternura

Sem procurar entender
Ele sai logo à procura
De quem não o faça magoado
Desse mal não quer sofrer

São jogos bem engraçados
Dos velhos tempos de Adão
Os dois andam separados
E se ao invés de apavorados
Assumem-se enamorados
Provocam do amor, a explosão

A experiência festejo
Mais velha, me regozijo
Quando m’ olham com desejo
Se for pra perder o ensejo
Perco bem antes, o juízo.

(Originariamente dedicado a Mark Twain, Ivan Lins e Joyce)
(Hoje, dedicado aos que, por amarem o amor, cultivam apenas possibilidades)

Nenhum comentário: