terça-feira, outubro 15, 2013

CORRESPONDÊNCIA DE AFETO


Querida,
..
Há quanto tempo não vens
minha amiga e conselheira
Sem teus ventos e sopros
sinto a alma migrar
para longe d’Ele e de mim
Me abandonas assim
Só

.
Permites que eu solte
o espírito desbaratado
corisque de um mote a outro
como cavalo desenfreado

.
Às apalpadelas
vivo o desatino
destino do desamparo
ou porões, minha morada

.
Peço que novamente me indiques
- há tempos dela me perdi -
os caminhos da paciência

.
Vem, sinto tua falta
traze teus sugestivos versos
tuas dores e contentamentos
tuas agonias e o enlevo
tua elegância

.
És sempre bem-vinda
mesmo quando tumultuas
- e quantas vezes o fizeste -
minha já tumultuada mente,
meu desgovernado coração

.
Vem e o segredo virá
- pois bem sinto mora em ti –
fazendo-se inspiração revelada

.
E, se não for muito o pedir,
ao vires traze
os ares e o canto das aves de Ávila
para que eu pressinta
– e apenas pressentir já é alívio–
o despertar da beleza

.
Sabendo que és puro desvelo
eu atenta discípula me quedo
com carinho espero
por teus sinais, até mais...

Teus ais pude daqui ouvir,
sobrinha querida,
e preciso dizer-te
que Ele de ti não se descuida.
E lembra-te...
.
O amor, quando já crescido,
Não pode ocioso ficar,
Nem o forte sem lutar,
Por amor de seu Querido.
Deus, de seu amor vencido,
Sempre o fará vencedor.
Que será ver-te, Senhor?
 


Quinze de outubro
é o dia dedicado a
Santa Teresa de Ávila
de quem tomei uma estrofe
do poema “A Santo André” para compor
esta troca de cartas.
Os trechos em itálico são de Santa Teresa.
 


 

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